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Geopolítica: a esperança da ascensão do Brasil no cenário internacional

Celso Amorim, Chanceler entre 2003 e 2010 e Ministro da Defesa de 2011 a 2014. (Foto: Antônio Araújo/Câmara dos Deputados)

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Após doze anos fora da presidência, Luiz Inácio Lula da Silva retorna ao posto maior do Poder Executivo do Brasil. O líder sindical nascido em Garanhuns obteve pouco mais de sessenta milhões e trezentos mil votos o que em porcentagem chega próximo a 51% de votos válidos. Seu adversário e atual presidente Jair Bolsonaro, ficou com 49%. Apesar de se sair vitorioso em todas as regiões do país, menos no Nordeste, região histórica de apoio ao Partido dos Trabalhadores, Bolsonaro viu exatamente esse local ser o divisor de águas para que Lula assumisse a cadeira pela terceira vez.

O recém-eleito presidente já havia falado sobre suas Relações Internacionais no último debate da TV Globo, provocando seu adversário Bolsonaro. Também, lembrou esse mesmo tema no discurso da vitória na Avenida Paulista. No último governo o PT de Lula nos deixou como sexta maior economia mundial. Vale reforçar que logo após a vitória atual, EUA, França, Rússia e China, membros do CSNU parabenizaram Lula, se somando a vários países da América Latina, outros emergentes e também europeus.

Há de se ressaltar que a dobradinha de Lula com Celso Amorim, seu ministro das Relações Exteriores, é reconhecida como um dream team da área por todo o mundo. O presidente eleito possui o dom da política e também da negociação, sendo uma pessoa hábil com as palavras, ao mesmo tempo que gentil e brincalhão, esbanjando o histórico “jeitinho brasileiro” por onde passou. Jeitinho esse que é famoso por todo mundo e quase levou o funcionário da ONU e carioca Sérgio Vieira de Mello ao secretariado geral da instituição.

Por outro lado, Amorim é um expert técnico das Relações Internacionais, sendo dono de um currículo invejável e considerado na época do governo do PT como o melhor chanceler do mundo pela revista Foreign Policy. Dono de vasto conhecimento sobre a área internacional e sobre defesa, o ex-chanceler de Lula e fiel braço direito internacional foi responsável direto pela política de austeridade econômica e desenvolvimento internacional de 2002 a 2010. Grande parte negociações brasileiras tiveram seu tom, sendo o presidente Lula como porta voz daquilo que era trabalhado em parceria com Amorim reforçando um trabalho histórico do Brasil nessa área.

Utilizando um modelo de política externa da “autonomia pela diversificação” o governo do presidente Lula construiu tudo aquilo que ainda respiramos de Relações Internacionais hoje em 2022. A palavra-chave foi “mudança” logo na primeira oportunidade e Lula discursou para o povo brasileiro fortalecendo a ideia de novos caminhos para sua política externa. Recebendo do governo FHC uma estabilidade econômica proporcionada pelo Plano Real era hora de o governo petista analisar o cenário internacional e iniciar as negociações e parcerias que um mandato reconhecido democraticamente e disposto a trabalhar teria como oportunidade de desenvolvimento.

O governo optou por se alinhar com países emergentes e em desenvolvimento, criando uma coordenação política e força nas negociações comerciais internacionais, dando destaque para China, África do Sul, Rússia, Índia e países da América do Sul, além de outros países do continente africano. Apesar de todas essas negociações, a China sem dúvida foi o principal parceiro comercial brasileira. Mesmo assim não houve uma quebra de paradigma se levarmos em consideração o histórico da PE brasileira, optando por objetivos, desenvolvendo economicamente o país e é claro mantendo certa autonomia na sua tomada de decisão política.

Em 2023 o governo petista irá enfrentar outro cenário completamente diferente de 20 anos atrás. A agenda 2030 e seus dezessete pontos ditam as regras da política internacional atualmente, estando o Brasil praticamente paralisado no que se diz seguir a Agenda. Outro ponto importante é o processo de descentralização do poder internacional, pois, agora estados e municípios tomam conta das suas Relações Internacionais ao redor do mundo.

Lula e Amorim terão de correr atrás de questões básicas como educação, inovação e tecnologia, sendo tudo isso associado a desenvolvimento sustentável e meio ambiente, devido a emissão de gases poluentes ser um tema primordial. Ao mesmo tempo, Lula não terá tanto dinheiro como teve, pois a China investiu pesado em commodities no sudeste asiático, atendendo demandas do seu território. O Brasil de fato precisa se reinserir internacionalmente e entender os novos costumes da comunidade internacional, algo que será difícil, mas não impossível visto os acenos já recebidos.

Carlos Rifan, internacionalista especialista em Negociação Internacional e Gestão Internacional, é CEO da Escola Nacional de Formação em Relações Internacionais (ENFRI).

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