A "geração Y" é composta por aqueles nascidos entre a década de 80 e meados dos anos 90, e que tiveram a internet e suas inúmeras possibilidades de comunicação presentes em seu desenvolvimento pessoal e educacional. A dificuldade em compreender e lidar com esses e outros atributos tem gerado um desalinhamento entre os sonhos e desejos desse público com o mercado de trabalho.
Essa turma pensa de modo digital, é multifuncional e quer respostas rápidas para tudo o que encara pela frente. Tem dificuldade em compreender o porquê de suas escolas não conseguirem atender às suas necessidades e sonhos, não se sente representada pelos governantes e é comum ter conflitos em suas relações familiares e pessoais, sentindo-se incompreendida.
São jovens de classe alta, ou média alta, com acesso a educação de qualidade, cursos de línguas e possibilidades de viagens diversas, bem diferentes da grande maioria dos outros jovens brasileiros, que usam telefone pré-pago, andam de ônibus, trabalham para pagar uma faculdade de baixa qualidade e veem nas redes sociais digitais seu grande instrumento de conexão. Geração Y não faz rolezinho em shopping!
Geralmente, o jovem Y recebeu "quase tudo pronto" de seus pais, esses sujeitos "legais" que, para proteger os filhos das dificuldades que vivenciaram, encheram sua prole com produtos, tecnologia e facilidades diversas. Mas essa turma, em certo momento, tem de encarar uma certa etapa, assim como sempre ocorreu com as gerações anteriores: processos seletivos e de adaptação em empresas, suas equipes, burocracias, paradoxos, opiniões diferentes e um chefe para colocar limites e lhe dizer "não" algumas vezes por dia.
Surgem reclamações de ambos os lados: das organizações que não conseguem lidar com esse perfil, e da insatisfação da garotada. Será um problema insolúvel? Estaria essa geração de talentos valiosíssimos perdida, sendo incompreendida e subaproveitada em tudo o que tem de melhor a oferecer para nossa sociedade? Creio ser esse um processo de ajuste e que já está em andamento, embora mais lento que a velocidade de surgimento da geração Y e de sua capacidade de se comunicar e se relacionar.
Essa turma é um reflexo do próprio cenário social, econômico e político pelo qual passamos, repleto de mudanças rápidas e complexas, muitas vezes incompreendidas por nós. Esses jovens são uma oportunidade enorme para a sociedade brasileira: têm valores socioambientais e de cooperação (embora tenham um enorme desejo de sucesso na vida) muito importantes. Suas mentes digitais e coletivas são as mais propensas a criar modelos de pensamento e atuação sistêmica que esse século 21 coloca como desafio a todos, principalmente na necessidade de interação entre governos, empresas e organizações sociais.
Para tanto, esse jovens deverão ser educados e orientados de tal maneira que seu modo de pensar e de agir não seja um problema, como tem sido colocado, mas uma oportunidade para toda a sociedade. Poucas são as organizações, empresas ou faculdades preparadas não apenas para lidar com esses jovens, mas para esse cenário do qual essa meninada é apenas um reflexo. O ajuste para entender e aproveitar as oportunidades trazidas pela geração Y deverá trazer para a mesa de diálogo seus educadores e empregadores, de forma cooperativa, algo que não é fácil de ser feito. Eis o desafio trazido por essa turma!
Ademar Bueno, professor, é coordenador do Laboratório de Inovação, Empreendedorismo e Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (LabIES-FGV) e do Programa Jovem Raps.
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