Vários bairros de Curitiba ainda preservam ruas de pouco movimento e com ar bucólico de décadas passadas. Guardam um pouco do que já foi uma paisagem preponderante, com terrenos amplos e jardins, alguns com porções de vegetação nativa remanescente. Essas condições, dependendo do caso, conferem o abono parcial ou total do IPTU – uma demonstração de que a cidade reconhece e valoriza a importância de espaços naturais ou mesmo de jardins nativos no mosaico urbano no qual estamos inseridos.
A importância do respeito à paisagem é uma questão de grande relevância nas cidades em todo o mundo, embora nem sempre exista uma condição adequada de resguardar esses espaços, que são um patrimônio de interesse público. As discussões que envolvem o Plano Diretor e a legislação que orienta a construção civil em áreas urbanas são constantemente pressionadas por quem tem negócios que dependem do valor e da amplitude dos metros quadrados edificados. Numa medida mais grosseira, quanto mais espaço construído, mais resultados.
As verticalizações e a utilização intensiva dos espaços disponíveis são providências que podem representar uma alternativa adequada em muitos casos. Em especial onde há já uma realidade de maior concentração de moradores e próximo aos grandes eixos de transporte, como conhecemos na cidade de Curitiba.
No entanto, a chegada de empreendimentos “invasores”, com estas características, em espaços onde dominam áreas que respeitam a existência de jardins e remanescentes naturais soa contrastante com o bom senso que sempre revelou a gestão municipal da capital paranaense.
O que é mesmo singular é a aprovação do uso intensivo destes espaços ainda ser comum, sem anteparos legais suficientes que direcionem com maior inteligência e visão de futuro o uso de um terreno. Muitas vezes, em vez de uma só casa, uma área passa a ter dezenas de residências, parede contra parede, projetadas para o maior “custo/benefício”.
Curioso observar que, ao idealizar a sua construção, o incorporador mais ambicioso não considera relevante a manutenção de espaços para manter áreas naturais. Para ele representaria um grande desperdício, naturalmente. E de nada interessa esse tipo de abordagem.
Mas, na hora de elaborar a propaganda para atrair compradores, não raro o mesmo incorporador julga como um valor agregado expressivo o jardim dos vizinhos. E não considera que aquele que se vê alijado de uma condição de maior coerência com a manutenção de espaços equilibrados ao seu redor ainda detém o direto de subir seus muros, obstruindo a paisagem que faz parte do portfólio do novo empreendimento. Uma forma de limitar a indiscrição de novos vizinhos excessivamente próximos. E uma resposta à altura de um negócio mal planejado e mal licenciado.