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Glamour, abuso e punição

 | Alexander Klein/AFP
(Foto: Alexander Klein/AFP)

No começo da década de 80, o esporte foi a vedete das políticas internacionais, com a Guerra Fria a todo vapor entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, e foi transformado em uma ferramenta de soberba e disputa entre as nações. Essa disputa pelo poder gerou uma competição que extrapola os valores esportivos estabelecidos pelo idealizador dos Jogos Olímpicos atuais, o barão de Coubertin, que usava o lema “o importante não é vencer, mas competir – e com dignidade”. Ainda que a frase não fosse de sua autoria, tornou-se um lema para o esporte competitivo da era moderna. Mas parece que a extinção da antiga União Soviética, substituída pela Federação Russa, não tirou dos governantes o modelo competitivo característico de vencer a qualquer custo.

O controle mundial de fiscalização antidoping é feito pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), órgão independente e liderado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), e se dá em todas as competições oficiais, como campeonatos mundiais e Jogos Olímpicos, incluindo também ações de fiscalização-relâmpago em treinamentos e locais onde os atletas vivem. No entanto, em nações como a Rússia e a China, esses processos de fiscalização sempre são dificultados, com atletas sendo deslocados para locais de treinamento muito distantes.

Punições como a da Rússia parecem ser apenas o início de uma nova era de controle

A suspensão da equipe nacional da Rússia dos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang, que começam daqui a menos de um mês, foi a mais dura punição a uma nação em Jogos Olímpicos por causa de doping – e também a mais correta. A verdade é que não podemos mais ficar reféns de estruturas governamentais que bloqueiam e escondem informações criminosas, doping e crime no esporte. Há muita tecnologia a favor da prática e novos desafios para a Wada, como a nova geração de doping genético.

Na pirâmide estrutural esportiva que envolve governantes, dirigentes desportivos, treinadores e atletas, cada um deve ter a sua carga de responsabilidade em prol do esporte. Punições como a da Rússia parecem ser apenas o início de uma nova era de controle, já que existem mais situações em processo de fiscalização e não ficaremos surpresos se outras nações forem punidas no futuro, mesmo que de forma retroativa, como aconteceu com alguns atletas russos que tiveram de devolver as medalhas obtidas nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, na Rússia, em 2014.

Todo o glamour que envolve o esporte, a busca pelo primeiro lugar, a fama, o retorno financeiro e a promessa de reconhecimento mundial levam entidades e esportistas a cometer abusos ilegais e a procurar formas de burlar as legislações vigentes de controle de substâncias proibidas. A Wada está em constante evolução para caminhar à frente de laboratórios e pesquisadores que, em prol da ciência para o desenvolvimento do esporte, acabam criando novas tecnologias de doping. Será difícil acreditarmos na quebra de recordes após presenciarmos o que está acontecendo com a Rússia, que sempre foi uma referência mundial no esporte de alto rendimento – mas, infelizmente, com a ajuda do doping.

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