| Foto: Joedson Alves/Agência Brasil
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Há um ditado popular que diz: "quem procura, acha". Atualmente, até mesmo quem não está procurando acaba sendo descoberto. Isso se deve ao fato de estarmos cada vez mais conectados digitalmente, e os fraudadores são rápidos em se aproveitar disso. Eles se beneficiam da rotina e da ansiedade das pessoas vulneráveis.

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Diariamente recebemos uma grande quantidade de mensagens – e os marqueteiros, sejam eles bons ou ruins, estão cientes disso – por SMS informando sobre um prêmio a ser resgatado, basta clicar no link, ou por e-mail, com uma nota fiscal de um produto que nem adquirimos. O anexo, que nos obrigam a acessar, é um vírus projetado para roubar nossas informações.

Manter-se online é uma prática cotidiana para a maioria das pessoas. Quase tudo é resolvido por meio do smartphone ou de qualquer aparelho conectado à rede mundial de computadores.

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No Brasil, enfrentamos uma realidade econômica desfavorável para a maioria dos cidadãos, que desejam resolver suas questões financeiras rapidamente. Essa realidade se torna um terreno fértil para os fraudadores explorarem.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Datafolha entre os dias 11 e 17 de junho, o Brasil registra mais de 4.600 golpes financeiros por hora. O levantamento aponta que os golpistas utilizam principalmente aplicativos de mensagens e chamadas telefônicas para realizar suas ações fraudulentas. Além disso, aproximadamente 25% da população acaba sendo alvo dessas tentativas de fraude, o que representa um quarto do total de brasileiros.

Tal fato se deve a múltiplos fatores, mas, principalmente, às condições financeiras das famílias, ao despreparo emocional e a vulnerabilidade. Somado isso à paixão por esportes, sobretudo o futebol, o mercado de apostas esportivas cresceu exponencialmente no Brasil.

Essa indústria se tornou parte integrante da cultura do entretenimento esportivo, com promessas de ganhos fáceis que atraem milhões de usuários

Entretanto, essa facilidade aparente esconde uma realidade complexa e potencialmente perigosa, aumentando o número de golpes financeiros, que exploram a inexperiência e a vulnerabilidade das pessoas. Uma verdadeira armadilha para os despreparados e desesperados.

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Para entendermos, em 2023, o mercado foi avaliado em aproximadamente US$76,75 bilhões e projeta-se um crescimento para US$155,49 bilhões até 2030, a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 10,3%. 

No Brasil, a popularização das apostas foi impulsionada pela regulamentação parcial do setor e pela presença massiva de publicidade em eventos esportivos, especialmente no futebol.

As casas de apostas esportivas oferecem uma robusta variedade de modalidades de apostas, desde as mais simples, como prever o vencedor de uma partida, até as mais complexas, que incluem combinações de resultados, número de gols, entre outros aspectos.

Essa diversidade atrai uma grande quantidade de usuários, que enxergam nas apostas uma oportunidade de lucro rápido. Inclusive, em 2023, em um esquema corrupto, foi oferecido a um jogador um montante em dinheiro para ele forçar um cartão vermelho em uma partida de futebol – o que beneficiaria um grupo que apostou para que ele fosse expulso.

Segundo um relatório da empresa de análise de mercado Zion Market Research, o mercado de apostas esportivas movimenta mais de US$200 bilhões anualmente em todo o mundo. No Brasil, o Ministério da Economia estima que o mercado de apostas esportivas, após a regulamentação prevista, possa arrecadar até R$12 bilhões em impostos, considerando um mercado que movimenta cerca de R$150 bilhões por ano no país.

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A quantidade de usuários também é impressionante. Estima-se que mais de 7 milhões de brasileiros participem regularmente de apostas esportivas, um número que cresce a cada ano. Essa popularização, entretanto, não se traduz necessariamente em sucesso financeiro para os apostadores.

A ilusão dos ganhos fáceis é o principal apelo em jogos de azar, seja em casas de apostas online e em aplicativos com jogos populares, como o famoso Jogo do Tigrinho.

Frequentemente são usadas estratégias de marketing agressivas para atrair novos apostadores, oferecendo bônus de boas-vindas, apostas grátis e outras promoções que dão a impressão de que é fácil ganhar dinheiro.

Entretanto, a realidade é bem diferente. As probabilidades são sempre calculadas de maneira a favorecer a casa, o que significa que, a longo prazo, é muito mais provável que os apostadores percam dinheiro do que ganhem.

Essa ilusão de ganhos fáceis pode levar a comportamentos de risco e a problemas financeiros graves.

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Muitos apostadores, movidos pela esperança de recuperar perdas ou pelo vício do jogo, acabam apostando mais do que podem perder, caindo em um círculo vicioso de endividamento e frustração

Há consequências. A falta de uma gestão de risco adequada é uma das principais razões pelas quais muitos apostadores enfrentam problemas. Sem um planejamento financeiro sólido e uma compreensão clara das probabilidades e dos riscos envolvidos, é fácil cair na armadilha das apostas impulsivas.

Estudos indicam que cerca de 2% a 3% da população mundial sofre de algum grau de vício em jogos de azar, o que inclui as apostas esportivas.

No Brasil, estima-se que até 5% dos apostadores apresentem comportamentos problemáticos, caracterizados por uma incapacidade de controlar as apostas, uso do jogo para escapar de problemas pessoais e financeiros, e continuar apostando apesar das consequências negativas.

Além disso, as apostas podem levar a outros problemas, como o isolamento social, problemas de saúde mental, e, em casos extremos, à prática de crimes para sustentar o vício. As famílias dos apostadores também são afetadas, enfrentando dificuldades financeiras e emocionais decorrentes do comportamento doente do membro apostador.

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Embora o mercado de apostas esportivas ofereça uma forma de entretenimento empolgante, é fundamental que os usuários estejam cientes dos riscos envolvidos. A ilusão de ganhos fáceis pode levar a sérias consequências financeiras e emocionais, especialmente para aqueles que não têm uma gestão de risco adequada. 

A educação e a conscientização são as melhores ferramentas para garantir que as apostas esportivas permaneçam uma atividade segura e divertida, em vez de se tornarem uma fonte de problemas.

Rodrigo Miranda é treinador comportamental e especialista em mindset financeiro, em trading de criptomoedas e criador da Universidade do Bitcoin, a UniBtc, com mais de 15 mil alunos. É formado em Administração de Empresas com pós-graduação em Pedagogia Empresarial.