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Expo Dubai
Enquanto governadores disputam investidores na Expo Dubai, o decepcionante pavilhão brasileiro oferece quase nada para os visitantes e tem sido criticado.| Foto: Divulgação

A Expo Dubai começou. É a primeira edição da maior e mais antiga feira mundial a ser realizada no Oriente Médio e, para dar contornos ainda mais especiais, é, também, o primeiro grande evento mundial após o início da pandemia. Além de exaltar sua cultura e natureza, cada país aproveita a ocasião em agendas paralelas para explorar oportunidades de negócios, especialmente relacionados à sustentabilidade, tema principal do evento.

O decepcionante pavilhão brasileiro oferece quase nada para os visitantes e tem sido criticado. O único grande acerto do Brasil foi descarbonizar as emissões do pavilhão com os CBIOs, créditos de carbono vinculados aos biocombustíveis brasileiros. Fora isso, zero resultados concretos do Brasil em sustentabilidade.

No entanto, é interessante observar a movimentação política dos governadores do Brasil, com agendas mais fortes que a comitiva federal, minguada e sem grandes encontros por parte do vice-presidente, Hamilton Mourão, que inaugurou o pavilhão. Nem mesmo Marcos Pontes, ministro de Ciência e Tecnologia, conseguiu muito, com encontros e acordos científicos interessantes, porém impraticáveis pela falta de orçamento de sua pasta.

O foco dos governos estaduais foi buscar investimento, e eles estão com tudo. A Semana do Paraná foi recheada de reuniões e eventos com investidores do Golfo e assinatura de memorandos para parcerias comerciais e visitas técnicas. O governador do Paraná, Ratinho Junior, lançou uma agenda ambiciosa: fazer o Oriente Médio deixar de ver o Paraná apenas como exportador agrícola para ser também um hub tecnológico e de investimentos – apostou forte na propaganda dos pacotes de concessão de 3,3 mil km de rodovias e da ferrovia Nova Ferroeste, que seu governo vai realizar em 2022. Esteve com Ali bin Harmal Al Dhaheri, primeiro vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Abu Dhabi, e com representantes do Mubadala, fundo soberano dos Emirados Árabes.

Já João Doria, governador de São Paulo, veio com um estado mais conhecido na vitrine. Ganhou a oportunidade de diversificar as relações e apostou em uma comitiva empresarial que foi atrás de investidores menos tradicionais. Doria assinou um acordo de parceria para promoção de negócios com a Câmara de Comércio e Indústria de Sharjah. Refletindo suas ambições eleitorais para 2022, falou para o público brasileiro das conquistas de seu governo, privatizações e projetos de modernização e sustentabilidade. Até a limpeza do Rio Pinheiros entrou. Faz parte da propaganda necessária sobre o estado, mas seu discurso veio com pitadas de uso eleitoral.

Até o momento, as agendas estaduais continuam sendo mais promissoras que a do governo federal.

Notável foi que o governador da Bahia, Rui Costa, teve uma agenda em Abu Dhabi maior que a do governo federal e de seus colegas Doria e Ratinho. Costa organizou de última hora sua comitiva, que veio de maneira discreta e sem alardes. Reuniu-se com Abdullah Al Mazrouei, presidente do Conselho da Câmara de Comércio e Indústria de Abu Dhabi, assim como com representantes do Mubadala – agenda parecida com a de Ratinho, mas com nomes de maior peso na política e no ambiente de negócios dos Emirados. Costa foi muito bem-recebido. Não à toa, os Emirados sabem que ele é aliado de Lula, hoje favorito para as eleições de 2022. Explicaria isso as agendas mais fortes que as de Doria e Bolsonaro?

Provavelmente, já que o pragmatismo pauta os Emirados. A ordem é manter todas as pontes abertas e jogar para os dois lados. Não à toa, a vinda do presidente Jair Bolsonaro à Expo, em 15 de novembro, é bastante aguardada. Por ora, nenhum sinal de agendas de alto nível, mas alguma provavelmente vai acontecer. Afinal, é a chance de o governo federal contornar a movimentação fraca vista até o momento.

Porém, dado o isolamento do Brasil no G20 e a agenda fraca na COP-26, não se pode esperar muito. É certo que a Expo continua até março de 2022 e outras delegações federais passarão por aqui. Mas, até o momento, as agendas estaduais continuam sendo mais promissoras que a do governo federal.

Leon Norking Rangel, coordenador de Energia na BMJ Consultores Associados e analista político, está fazendo a cobertura do Brasil na Expo Dubai.

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