O ministério que toma posse com o presidente eleito Jair Bolsonaro já está definido. Mas no Paraná, a estrutura atual de 26 secretarias e 175,2 mil cargos públicos, envolvida na gestão de um orçamento de R$ 57,4 bilhões, ainda não foi redesenhada. O motivo é alentador: por encomenda do governador eleito Ratinho Junior, a Fundação Dom Cabral está fazendo um estudo que deverá apresentar sugestões para tornar a máquina estatal mais enxuta e eficiente em sua governança.
Como em qualquer trabalho de consultoria, a parte mais fácil desse processo será receber a recomendação. Tirá-la do papel ou da apresentação powerpoint e incorporá-la ao dia a dia da gestão constitui o verdadeiro desafio. Assim como na empresa privada, esse trabalho exigirá esforço consciente dos altos gestores, mudanças culturais e de processos profundas, que demandam constante reforço e acompanhamento. No caso do poder público há ainda ingredientes extras, na forma de negociações e interesses político-partidários em nome da governabilidade.
Conciliar as duas pontas – a exigência técnica de decisões e os interesses do poder – será a grande inovação no ambiente brasileiro. Países europeus, como o Reino Unido e a Holanda, e o Chile na América do Sul, já provaram ser possível.
A adoção de metas a serem atingidas pelos servidores, desdobradas do planejamento macro, também é prática de boa governança
O que se espera no novo jeito de fazer política e gestão pública é que se encontrem novos caminhos para questões em que o Estado brasileiro tem sido reprovado de forma recorrente. Uma delas é o estabelecimento de um planejamento financeiro em que se trabalhe com os recursos arrecadados. Outra é a contratação de técnicos e especialistas em lugar das indicações meramente políticas.
A adoção de metas a serem atingidas pelos servidores, desdobradas do planejamento macro, também é prática de boa governança que o setor público precisa adotar em todas as instâncias, municipal, estadual ou federal. Não há como se avaliar o que o Estado está devolvendo para seus cidadãos, que viabilizam seu funcionamento pelo pagamento de impostos, se objetivos, indicadores e métricas não forem implantados.
É vital ainda que se combata o estigma de que funcionários públicos não trabalham ou não querem trabalhar. Esse tipo de comportamento, quando existe, em geral é criado e reforçado pelo “sistema”. O mesmo acontece na iniciativa privada. Quando uma empresa decide adotar determinada postura, ou práticas de gestão, isso deve vir ancorado nos porquês, no trabalho de entendimento e engajamento dos seus colaboradores. Sempre que possível eles devem participar da construção do novo cenário. Este envolvimento cria o sentimento de propriedade, principalmente quando patrocinado pelo alto escalão. A mudança mais integral é aquela que vem do exemplo inspirador.
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O cidadão é personagem fundamental neste cenário e precisa não só evoluir para o voto consciente como também cultivar a memória eleitoral, sem nunca perder de vista em que candidatos votou e que propostas elegeu.
Há demonstrações recentes de que cresce a politização entre as gerações mais jovens, diferentemente da crença conservadora que a classifica como apolítica. Nas manifestações de junho de 2013, os jovens souberam usar as redes sociais para mobilizar manifestações fora delas. O movimento de renovação surgido neste ano não é resultado da campanha eleitoral, mas vem se formando nos últimos anos. A política ganhou o nosso dia a dia e devemos trabalhar para manter esta luz acesa.
O exercício da cidadania empodera as pessoas e cria engajamento. E é isso que precisamos para manter nossos políticos e gestores públicos responsáveis pelo importante escopo que lhes é confiado: a consciência de que também fazemos parte deste jogo.
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