| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

Em um período de 12 anos, o Brasil teve a inédita honra de realizar vários dos maiores eventos esportivos do mundo: os Jogos Pan-Americanos de 2007, a Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo de 2014, os Jogos Olímpicos de 2016 e a Copa América de 2019. Para sediar grandes eventos esportivos, os países precisam investir em infraestrutura esportiva, hoteleira e de transportes, o que exige grandes aportes de dinheiro, sobretudo estatal.

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O Pan de 2007 gastou R$ 3,6 bilhões a mais que o planejado e seu maior legado, a Vila Pan-Americana, traz problemas estruturais até os dias de hoje. De toda forma, aquela competição, no cômputo geral, foi considerada um sucesso e serviu de força propulsora para a conquista do direito de organizar os Jogos Olímpicos de 2016.

A Copa das Confederações de 2013 foi o evento-teste para o Mundial do ano seguinte e ficou conhecida como “Copa das Manifestações”, devido aos protestos populares que ocorreram antes e durante a competição. Além de servir para avaliar as instalações, logística e organização, a Copa das Confederações trouxe como grande legado o renascimento da seleção brasileira, que conquistou o título ao retirar uma grande invencibilidade da Espanha na final.

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O problema não é organizar eventos esportivos; eles podem, sim, trazer um imenso legado

Em 2014 o Brasil recebeu a Copa do Mundo e, apesar do inesquecível 7 a 1 na semifinal, o Mundial deixou para o país imensa melhora nos aeroportos e 12 novas arenas construídas ou reformadas segundo os melhores padrões internacionais. Além disso, houve expressivo aumento no número de turistas e melhora da imagem do Brasil no exterior. Por outro lado, o orçamento foi extrapolado e gastou-se muito com estádios que hoje estão subutilizados, como os de Cuiabá, Manaus e Brasília.

Os tão sonhados Jogos Olímpicos desembarcaram no Brasil – mais precisamente, no Rio de Janeiro – em 2016. A competição deixou para a cidade a Linha 4 do metrô (que liga a Barra à Zona Sul), corredores de ônibus e VLT, com melhora na mobilidade urbana. O Centro e a Zona Portuária foram revitalizados, inclusive com a construção de um boulevard que tem encantado cariocas e turistas. Entretanto, muitas das instalações esportivas estão abandonadas; a estação de metrô da Gávea não ficou pronta; e pairam suspeitas várias de corrupção, envolvendo desde o processo de votação para a escolha da cidade como sede até o superfaturamento de obras.

Por fim, a Copa América de 2019 não exigiu grandes investimentos e aproveitou-se das arenas construídas para a Copa do Mundo. Mas o seu grande legado, sem dúvida, será o de estádios vazios em uma série de jogos da primeira fase.

O Brasil prepara-se, agora, para organizar a Copa do Mundo Sub-17 em outubro, em substituição ao Peru, que desistiu por não conseguir cumprir com todos os requisitos exigidos pela Fifa. Ademais, o país é candidato a organizar a Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2023 e o Mundial de Clubes de 2021, o primeiro sob o novo formato.

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A realização de eventos esportivos de grande ou média magnitude – como campeonatos mundiais de modalidades como atletismo ou natação, ou os Jogos Olímpicos da Juventude, cuja edição mais recente ocorreu em Buenos Aires, em 2018 – tende a trazer imensos benefícios ao país organizador, seja do ponto de vista esportivo, de turismo ou de infraestrutura.

O grande problema da organização destes eventos no Brasil é a corrupção disseminada no país, especialmente durante os governos Lula e Dilma. Além de, durante grande período de crescimento econômico, o país ter perdido a maior oportunidade da história de se firmar como potência mundial ao investir em infraestrutura, os governos do PT optaram por práticas populistas e corruptivas, e assim o Brasil jogou fora a chance de aproveitar os grandes eventos esportivos para aumentar sua capacidade turística e revitalizar suas cidades. Para se ter uma ideia de como o turismo no Brasil é subaproveitado, todo o litoral brasileiro recebe menos turistas que a cidade mexicana de Cancún.

No que diz respeito aos legados de infraestrutura, a Espanha apresentou-se ao mundo quando organizou, na sequência, a Copa do Mundo de 1982 e os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. A cidade catalã, aliás, é o maior exemplo de como um evento esportivo pode mudar os rumos de uma cidade e de um país.

O problema, portanto, não é organizar eventos esportivos; eles podem, sim, trazer um imenso legado. A grande questão é a incompetência e a desonestidade na sua organização.

Gustavo Lopes Pires de Souza é mestre em Direito Desportivo.

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