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Tanques israelenses perto da fronteira com Gaza nesta terça-feira (24)
Tanques israelenses perto da fronteira com Gaza nesta terça-feira (24)| Foto: EFE/EPA/HANNIBAL HANSCHKE

Para falar sobre os reflexos dos políticos brasileiros à guerra, é preciso falar sobre quem está no poder atualmente, que é o Partido dos Trabalhadores. A estratégia petista em geral, do ponto de vista de políticas internacionais, é muito alinhada àquele livro 1984, de George Orwell, que usa uma linguagem conhecida como doublespeak, que disfarça, distorce ou inverte o significado das palavras. Ou seja, você pode dizer algo e o contrário disso, e ainda assim estar correto.

Falando da guerra contra o Hamas, precisamos voltar até meados de 2008, quando o então presidente de Israel, Shimon Peres, visita o Brasil, e em 2010 quando Lula vai a Israel. Todas as declarações referentes a estes momentos estão alinhadas ao doublespeak. Essa duplicidade de intenções sempre esteve presente nas narrativas políticas. Se analisarmos de forma pragmática, a esquerda moderna simpatiza, e muito, com a ideia de que os palestinos são oprimidos, e claro que não pela organização criminosa e terrorista do Hamas, mas sim pelos israelenses. E isso é algo que flui internacionalmente, um pouco também pelo que se entende que é o poder eleitoral árabe no Brasil. Afinal, doze milhões de votos fazem a diferença. Pouco se sabe, mas quase todos eles são cristãos, e muitos foram salvos por Israel dos massacres realizados por palestinos extremistas.

É muito mais fácil manter a narrativa alinhada de que cuidam dos mais fracos e oprimidos, bem como não demonstrar apoio a um país capitalista e democrático. Mas o único acordo internacional feito pelo PT nessa época foi justamente com Israel, Palestina e Egito. E o que o Egito e a Palestina têm de interessante para oferecer ao Brasil? Não muito.

Portanto, muito além do que conta a história e do que a linha da narrativa sustenta, de que somos um país que prega a paz, é indispensável nos atermos aos fatos. Na época, o Brasil estava perto de sediar a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016), e precisava da tecnologia militar de Israel. Ponto é que ali foi desenhado um acordo comercial, em que ambos os países entendem o seu valor para o outro.

Ou seja, nesta grande jogada política a linha é dura, mas o pragmatismo é maior. Embora o relacionamento de amizade tecnológica entre as nações tenha sido bastante eficiente e estratégico, não houve, até agora um discurso favorável a Israel neste conflito.

Usamos, mais uma vez, a linguagem diplomática para dizer e contradizer ao mesmo tempo. E essa posição do Brasil de nem muito cá, nem muito lá, em guerras e conflitos mundiais tem lógica, mesmo que não concordemos com ela. A postura “pacífica” do Lula, no fundo, é coerente, uma vez que historicamente, ainda existe a memória de um golpe militar ao mesmo tempo em que não temos poder bélico para defender nossas fronteiras em paz, muito menos em conflito. No fim, não é uma questão moral, nem nunca foi. Vivemos em um esquema de “mensalão da felicidade”, quanto mais apaziguamos, menos chances de atos revolucionários internos e externos.

Daniel R. Schnaider é veterano da 8200 – Unidade de Inteligência de Elite de Israel.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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