De acordo com a edição do jornal Jerusalem Post de 1º de janeiro, o xeque Nizar Rayyan, 52 anos, clérigo e líder sênior do Hamas, foi morto com outros palestinos na quinta-feira, quando uma aeronave despejou uma bomba no prédio de oito andares onde ele vivia, em Jabalia, na Faixa de Gaza. Rayyan não era somente o líder religioso do braço militar do Hamas, as Brigadas de Izzadin Kassam, mas também um de seus comandantes. Como palestrante na Universidade Islâmica de Gaza, Rayyan orientou homems-bomba e chegou, algumas vezes, a integrar operações ao lado de militantes do Hamas. Era um dos defensores da política de promover ataques suicidas contra Israel.

CARREGANDO :)

A casa de Rayyan servia como depósito de armas e munições e como um centro de comunicações do Hamas, segundo porta-vozes do próprio governo palestino. Além disso, havia um túnel sob o imóvel, que era usado para a fuga de terroristas.

Ele dirigiu e financiou o sofisticado ataque terrorista de 14 de março de 2004 contra o estratégico Porto de Ashdod, perpertrado por dois terroristas que conduziram ao local um contêiner de paredes duplas construído especificamente para esse fim. Na ocasião, a polícia israelense avaliou que o ataque, envolvendo um plástico explosivo altamente sofisticado, teve como alvo tanques de produtos químicos, incluindo bromina, o que causou grandes danos. Dez israelenses morreram em decorrência da ação.

Publicidade

Como consequência desse ataque estratégico, o xeque Ahmed Yassin – líder do Hamas responsável por dúzias de ataques suicidas perpetrados no território de Israel durante a segunda intifada – foi metralhado de um helicóptero dias depois, em 22 de março.

No ataque aéreo contra Nizar Rayyan, nove outras pessoas foram mortas, incluindo quatro esposas e quatro dos seus 12 filhos. Cerca de 30 pessoas foram feridas. De acordo com fontes palestinas, a família foi alertada antes do ataque, mas não deixou o prédio.

Segundo um texto postado no site em inglês do Hamas no dia 1º de janeiro, foi Rayyan que "teve a iniciativa, dois anos atrás, de proteger casas palestinas contra ataques de Israel usando escudos humanos".

De acordo com o jornal israelense Haaretz de 2 de janeiro, em alguns casos, moradores de casas palestinas suspeitas de abrigar terroristas conseguiram evitar o bombardeio ao subir no telhado para mostrar que não deixariam o local, fazendo com que os comandantes das Forças de Defesa de Israel abortassem o ataque. As Forças têm um código para tais operações: a "batida no telhado", em que o exército informa os moradores que eles têm 10 minutos para deixar o imóvel suspeito. Nesses casos, a Força Aérea de Israel lança um míssil de menor potência no canto do telhado, evitando fazer vítimas, mas garantindo a dispersão.

Parece, no entanto, que desta vez a estratégia deliberada de usar escudos humanos não funcionou. As Forças de Defesa de Israel bombardearam o imóvel assim mesmo. O fato de a família de Rayyan não ter deixado o prédio apesar de ter sido alertada antes do ataque mostra que ele não se incomodava com o aumento de vítimas civis, mesmo entre seus parentes. Ele já tinha uma história familiar de "sacrifícios": em outubro de 2001 ele enviou um filho para um ataque suicida contra o assentamento Elei Sinai, em Gush Katif, no qual dois jovens israelenses foram mortos.

Publicidade

Mushir al-Masri, porta-voz do Hamas, respondeu ao ocorrido recente dizendo que "esta é uma nova escalada de violência. Estamos tomando todas as precauções para proteger os líderes do grupo e garantir que o inimigo não tenha outras vitórias". A declaração indica que o Hamas quer vingança contra os soldados israelenses.

Ely Karmon é pesquisador sênior do Instituto Internacional de Contra-Terrorismo, localizado em Herzlyia, Israel.