Ouça este conteúdo
Uma série de comparações esdrúxulas foram feitas, recentemente, por importantes atores políticos. Escolhi duas delas. Começo com a declaração do líder do governo no Senado, Jaques Wagner: "A fala do presidente [Lula} é, mais uma vez, a indignação de um humanista com aquilo que está acontecendo na Faixa de Gaza. Não há, na minha opinião, quem possa concordar com o que está acontecendo. Seria a mesma coisa se eu chegasse ao Rio de Janeiro ou em qualquer lugar para tentar alcançar um traficante e bombardeasse o bairro inteiro”. A comparação de Wagner é improcedente.
Os traficantes do Rio de Janeiro nunca construíram quilômetros de sofisticados túneis. Tornando singular a guerra em Gaza. Ela é feita, pela primeira vez na história, em dois níveis: parte na superfície reservada para os verdadeira civis e outra subterrânea aonde se escondem os terroristas fantasiados de civis. Difícil distinguir quem é quem. Vários destes túneis estão conectados a hospitais, escolas, campos de refugiados e prédios da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos). Inclusive alguns integrantes desta organização participaram diretamente do brutal ataque perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro passado.
Em Gaza, o Hamas gastou milhões de dólares para construir seus túneis, contudo, não se preocupou em construir abrigos para a população que não pertence a esta organização. O objetivo é claro: a população civil serve como escudos humanos gerando torpor nas mentes bem intencionadas, mas ingênuas. O que se quer evitar é a vitória de Israel na guerra. Não me consta que alguma facção criminosa brasileira tenha redigido uma Carta pregando a destruição do Brasil e morte de seus habitantes. Ao contrário do Hamas que crava, abertamente, o extermínio de Israel e a morte de todos os judeus. Isto sim, é uma política genocida. Por sinal, caso Israel não tivesse desenvolvido um sofisticado sistema antimísseis, muitas cidades teriam sido arrasadas gerando, fatalmente, a morte de vários civis. Sejam eles judeus ou árabes israelenses. Mesmo assim, o presidente Lula declarou que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.
Após ser declarado persona non grata por Israel, voltou ao tema e disse que há um genocídio em Gaza. Esse termo foi criado por um advogado judeu, Raphael Lemkin, em busca de uma tipificação penal para o plano de extermínio dos judeus por parte de Hitler, conhecido como a “Solução Final”. O importante a ser ressaltado, afora o número de vitimados, era realçar a intenção nazista deliberada de exterminar um povo.
Ora, em Gaza, Israel lança panfletos avisando a população para evacuar suas casas pois os túneis seriam bombardeados. Continua a fornecer energia para Gaza. Permite a entrada de mantimentos que, por sinal, costumam ser abocanhadodos à força pelo Hamas em detrimento da população civil palestina. O Rei da Jordânia pediu, e Israel aceitou, o lançamento por via aérea noturna de material para um hospital local de campanha. Israel abriu um corredor humanitário para que a população palestina pudesse migrar do Norte para o Sul. Na ocasião, soldados israelenses protegeram os palestinos que eram alvejados por integrantes do Hamas contrários ao abandono da porção Norte. Dominado o Norte, falta Israel derrotar o Hamas no sul da Faixa. Em especial em Rafah. E o governo acaba de anunciar um plano para evacuar os palestinos do sul.
Exageros podem ter sido cometidos, como ocorre em qualquer guerra. E precisam ser investigados. Mas está longe de ser um genocídio. Lembro que o Hamas não aceita a solução de dois Estados: um judeu e outro palestino. Em terras islâmicas, só há espaço para muçulmanos e Israel luta para sobreviver. Como escreveu George Orwell, “não há rota mais rápida para a corrupção do pensamento do que através da corrupção da linguagem”.
Jorge Zaverucha é doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago e professor titular da UFPE.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos