Campo de concentração de Auschwitz.| Foto: Ron Porter/Pixabay
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Durante o Holocausto, 6 milhões de judeus foram assassinados de uma maneira brutal e sistemática pelo regime nazista. Em muitos casos, famílias inteiras foram mortas e varridas da face da terra, não deixando nada para trás, nem uma única alma. Em outros casos, alguns indivíduos com sorte foram capazes de sobreviver aos horrores do Holocausto. Após o fim da guerra, aqueles que sobreviveram aos guetos e campos de concentração, os que tiveram sorte de não serem massacrados em campos de extermínio e câmaras de gás, se encontraram dispersos, doentes, sem casa e sozinhos.

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Meu avô, Mordechai Arkush (Z”L), nasceu e cresceu na pequena cidade de Działoszyce, na Polônia. Após os nazistas começarem a executar a “Solução Final” – o extermínio de todos os judeus –, meu avô foi enviado para o campo de trabalho de Płaszów. Depois de anos de brutais abusos físicos e emocionais, depois de quase ser morto várias vezes, e depois de salvar seu irmão mais novo da morte iminente, ele foi libertado do campo de concentração de Theresienstadt, onde hoje é a República Tcheca. Na sua libertação, ele se encontrava a cerca de 700 quilômetros de onde era sua casa, em um país diferente e sem saber o que havia acontecido com seus familiares.

Estamos testemunhando um aumento global do antissemitismo e de discursos de ódio, e as lições do Holocausto nunca foram tão relevantes

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Assim como ele, milhares de sobreviventes procuraram por notícias de seus entes queridos e de seu passado, imaginando como seguiriam com suas vidas. Alguns queriam voltar às cidades onde nasceram, mas, infelizmente, eles rapidamente aprenderam sobre os pogroms que a população local cometeu com os judeus que retornaram. Nos lugares que não foram afetados por pogroms, suas propriedades e todos os seus pertences foram tomados por outros, com a aprovação do governo local. Após entender esta nova realidade, a maioria se mudou dos campos de concentração e extermínio para campos de refugiados, com o objetivo de sair da Europa, para Israel (que ainda estava sob o mandato britânico), para os Estados Unidos, para o Brasil e muitos outros países.

O processo de encontrar familiares começou imediatamente após a guerra, enquanto organizações judias lideravam esses esforços. Não foi fácil e durou décadas. Em Israel, o governo, por meio da Agência Judaica, estabeleceu o Escritório de Busca a Familiares Desaparecidos, um departamento que esteve ativo de 1945 a 2002 com o propósito de ajudar sobreviventes do Holocausto a localizar seus familiares e conhecidos. Em Israel, havia até um programa de rádio que, por uma hora, anunciava nomes de sobreviventes do Holocausto procurando seus entes queridos. Esses esforços resultavam em maravilhosas histórias, de irmãos e irmãs se reencontrando depois de décadas, pais abraçando seus filhos anos após terem sido separados, antigos romances que puderam ter sua chama reacesa, até histórias de irmãos gêmeos que viveram separados por muitos anos e finalmente conseguiram se reencontrar.

Anne Frank escreveu em seu diário: “Se suportarmos todo este sofrimento e se ainda houver judeus, quando tudo acabar, os judeus, em vez de serem condenados, serão vistos como um exemplo”. Esse esforço conjunto para conectar os sobreviventes depois dos eventos horríveis do Holocausto foi o caminho certo para uma recuperação individual e nacional, e os passos necessários para cumprir a profecia.

Há alguns meses, um líder da comunidade judaica no Brasil me colocou em contato com outro líder comunitário na Inglaterra. Seu sobrenome é o mesmo de meu avô, Arkush. Fiquei curioso para saber se tínhamos vínculos familiares e, se sim, quais eram. Não há muitos Arkush, então imaginei que seria possível. Para minha surpresa, seu avô deixou a Polônia antes da guerra, saindo de uma cidade muito próxima daquela onde meu avô nasceu. Ambos achamos que havia alguma relação ali, e estamos trabalhando para descobrir isso.

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Hoje, 27 de janeiro, o mundo comemora o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. A data marca o aniversário da libertação do campo de concentração e extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau por tropas soviéticas, em 27 de janeiro de 1945, e foi oficialmente proclamada, em novembro de 2005, como tal pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

O Holocausto teve implicações e consequências universais ao redor do mundo. Todos nós compartilhamos a responsabilidade coletiva de relembrar e educar sobre o Holocausto e o que levou a isso. Todos nós precisamos fazer o máximo para prevenir que atrocidades como esta aconteçam novamente. Essa responsabilidade envolve a educação sobre as causas, consequências e dinâmicas de tais crimes, para assim fortalecer a resiliência dos jovens contra ideologias de ódio. Estamos testemunhando um aumento global do antissemitismo e de discursos de ódio, e as lições do Holocausto nunca foram tão relevantes.

Como Simon Wiesenthal disse, “para que o mal floresça, basta que os homens bons não façam nada”. Vamos trabalhar juntos para prevenir futuras atrocidades.

Alon Lavi é cônsul-geral de Israel em São Paulo e neto de sobrevivente do Holocausto.