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Opinião do dia 2

“Hóspede famoso”

19 de julho. A Penitenciária Federal de Catanduvas, situada na Região Oeste do Paraná, recebeu seu primeiro "hóspede famoso": Luís Fernando da Costa, vulgo Fernandinho Beira-Mar. Está, portanto, inaugurado em terras paranaenses o "hotel do crime", prisão de segurança máxima onde funciona o chamado Regime Disciplinar Diferenciado que contempla com regras mais rigorosas presos considerados de alta periculosidade.

Beira-Mar ingressou no mundo da criminalidade ainda cedo. Um pequeno assalto aqui, um furto ali pavimentaram a estrada da vida do jovem favelado sem eira nem beira, que teve sorte de não morrer cedo com tantos outros que ingressam nas sendas tenebrosas da marginalidade. Como se sabe, sem horizontes de progresso material a juventude se torna presa fácil de organizações criminosas, pois é atraída por falsas promessas de riqueza rápida.

O bandido carioca "prosperou" em seus "negócios". Tomou gosto. Provou da impunidade que torna nosso país pouco civilizado em matéria do cumprimento das leis e mantém a população refém de bandidos. Beira-Mar tornou-se um dos líderes do Comando Vermelho, uma das mais perigosas e temíveis facções do crime. Afinal, o poderoso CV organizou no Rio de Janeiro um governo paralelo e mantém a população envolvida numa espécie de guerra civil.

Fernandinho Beira-Mar não parou de ascender. Globalizou suas atividades. Ligou-se às Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc), a sangüinária organização de narcoguerrilheiros que, como o Comando Vermelho, assume tintas ideológicas de esquerda e, em nome do povo, tortura e mata o povo.

Depois de ser finalmente preso, o "hóspede famoso" foi transferido oito vezes para presídios espalhados pelo país. Oneroso "hóspede do crime" mantido com nossos impostos. Coisa de menos, já que dotamos de glamour os bandidos mais famosos como se por essas plagas nos faltassem heróis de verdade e tradições cívicas das quais pudéssemos realmente nos orgulhar.

Infelizmente, em Terra de Macunaíma direitos humanos são para bandidos. Quantas vezes nos colocamos em defesa destes e tendemos a criticar os policiais que, mal-remunerados e mal-armados pagam muitas vezes com a vida a defesa da sociedade. Pesa em tudo o fracasso do Estado brasileiro no tocante ao cumprimento de seu principal dever: dar segurança a todos os cidadãos.

A Penitenciária Federal de Catanduvas receberá outros "hóspedes famosos". Quem sabe seus portões se abrirão para Marcos Willian Herbas Camacho, o Marcola, principal líder de outra facção do crime: Primeiro Comando da Capital (PCC). E interessante é observar que Farc, Sendero Luminoso, Comando Vermelho, PCC são versões latino-americanas da narcoguerrilha com ramificações, supõe-se, em alguns dos nossos chamados "movimentos sociais". Os membros de tais movimentos seriam treinados pelas Farc nas artes da guerrilha, da baderna, da quebra do Estado Democrático de Direito, na luta armada que objetiva o sonho marxista requentado de ascensão ao poder através da força.

Mas, enquanto Beira-Mar se encontra "hospedado" em Catanduvas, surge um paradoxo: o Brasil concede status de refugiado político a um dos principais dirigentes das Farc, o colombiano Cadena Collazos conhecido como Padre Olivério Medina ou Cura Camilo. Ele é acusado na Colômbia, cujo governo pediu sua extradição, de terrorismo, homicídio, seqüestro e extorsão.

Diante disso, vem a pergunta que não quer calar: o Padre Olivério Medina não devia estar junto ao companheiro Beira-Mar? Afinal, é outro Ph.D. em crimes hediondos.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, professora universitária, autora, entre outros livros. de "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – A Ética da Malandragem".

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