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Ideologia de gênero no mundo dos negócios

 | Robson Vilalba/Thapcom
(Foto: Robson Vilalba/Thapcom)

O único dogma do “progressista” é jamais fixar um dogma. Sua única doutrina oficial é o fim. Seu conteúdo dogmático é unicamente o poder. E a burguesia capitalista é, agora, seu mais novo aliado, por meio da ideologia de gênero, pois seus promotores notaram que quem aceita o seu discursinho é apenas o beautiful people das universidades, tomadas de assalto pelo progressismo, e os bonitões da grande mídia. O povo assiste a tudo isso com desconfiança, julgando ser coisa só de programas matutinos de televisão. A mais nova tática da retórica de gênero, porém, chegou silenciosamente ao Brasil e expandir-se-á formidavelmente.

Pequenas e médias empresas têm o frequente hábito de observar, adaptar e implementar práticas de grandes empresas, o que não é de forma alguma imoral. Pequenos e médios empresários constituem a maioria das empresas e, a despeito de não terem grande poder e nem sequer grande volume de capital, eles têm algo que megaempresas não têm, e sonhariam ter: conhecimento e intimidade, por experiência, de realidades específicas locais e, por isso, proximidade sincera com o público interno e externo.

A nova retórica de gênero, alastrada por jornais estrangeiros, chama-se gender pay-gap, ou seja, diferença salarial entre homens e mulheres. Esse argumento, antes usado para reforçar a narrativa da exclusão feminina, agora foi desdobrado para incluir a agenda de gênero em grandes empresas e pretende demonstrar como isso é muito lucrativo. Dizem que um ambiente com igualdade de gênero é mais acolhedor, produtivo e criativo, no qual todos vivem felizes e, portanto, há prosperidade sem precedentes.

Pequenos e médios empresários desconhecem quão sorrateiro e incontrolável o discurso de gênero pode ser

Se isso colar, pequenas e médias empresas ver-se-ão impelidas a copiar “modelos de sucesso” (benchmarking) divulgados por órgãos especializados e, depois, consolidados pela grande mídia. No último ano, revistas divulgaram a mesma narrativa – perceba a unidade – com manchetes do tipo “Apesar de programas, igualdade de gênero nas empresas ainda é desafio”, “Gênero nas empresas”, “Maioria das empresas não tem iniciativas de igualdade de gênero”, “Somos todos empreendedores: entenda como arte, gênero e tecnologia transformam o mundo dos negócios – e por que a sua empresa precisa fazer parte disso”, “Políticas de igualdade de gênero nas empresas brasileiras ainda são básicas, diz BCG” e, finalmente, “A vez dos trans no mundo corporativo”.

Pequenos e médios empresários desconhecem quão sorrateiro e incontrolável o discurso de gênero pode ser. Ele entrará sutilmente pelo apelo financeiro e, uma vez adotado, será alimentado pelo politicamente correto, levedará no ambiente empresarial, causando mudanças substanciais na seleção de vagas, na solução de problemas, nas relações interpessoais, até submeter a todos, para nunca mais voltar. De um lado, o patrão quer crescer e o gênero parece ser mais uma solução, como outrora foi a sustentabilidade; do outro, o empregado, esmagado entre o holerite e o boleto.

O leitor deve julgar que se trata somente de mais um movimento natural do mundo dos negócios. Não desta vez. No Brasil, dois grandes eventos marcaram o início dessa nova moda: um deles em abril, e o outro no mês seguinte. O primeiro foi o Fórum WEPs, no qual Tânia Cosentino, presidente para América Latina da Schneider Eletric, apresentou seu caso de igualdade de gênero e compartilhou ações da companhia, signatária dos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs). Tânia começou falando em salário e terminou em gênero e diversidade, uma ilação psicótica.

O segundo evento – este, sim, mais importante, pois envolveu compromissos formais – foi a Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero, uma iniciativa do Instituto Ethos, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) e do Institute for Human Rights and Business (IHRB), com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O grande evento pretendeu criar estímulos à implementação e ao aprimoramento de políticas públicas e práticas empresariais, em um esforço coletivo para se promover a inclusão e a diversidade nas organizações. Não é surpresa que fundações internacionais banquem esse tipo de iniciativa. Financiaram a Coalizão, via parceria com a IHRB, as seguintes fundações: Clifford Chance Foundation, GE Foundation, Humanity United, International Labour Organization, Oak Foundation e, claro, a Open Society Foundation, do milionário progressista George Soros.

Muitos perguntam qual o interesse dessas megafundações e empresas multimilionárias. O cálculo é simples: a ideologia de gênero enfraquece as relações familiares tradicionais, dissolvendo completamente as funções sociais antes estabelecidas, e isola o indivíduo em um incontrolável muro de impressões pessoais rarefeitas e novos papéis sociais confusos e instáveis. O círculo das relações familiares, mediador e protetor do indivíduo contra o Estado, é fragilizado. O indivíduo se vê apegado unicamente à sua própria construção subjetiva de identidade de gênero e, portanto, isolado da estrutura familiar clássica. A autoconstrução pessoal sobrepuja a realidade objetiva e atomiza os indivíduos, o que permite que metacapitalistas exerçam uma influência ainda maior e mantenham sua rica fortuna e poder estáveis e crescentes.

Em resumo, o gênero é conveniente tanto para a esquerda, porque dissolve as estruturas burguesas, quanto para os metacapitalistas, porque a eles fornece um meio de sustentação da hegemonia econômica. A maioria da população, que não possui empresas e somente é contratada por uma delas, é deixada sozinha e sem saída. Se o discurso externo, sob a forma de publicidade e propaganda, não deu certo, eles forçarão o gênero internamente nas empresas, cujos funcionários aceitarão por necessidade financeira, e não por convicção; não o farão por concordar, mas porque precisam encher a despensa no começo do mês.

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