É certo que ideologia deve impulsionar a política, estimulando valores e propostas voltadas para a realização de projetos. Na democracia, deveríamos ter o embate de ideias defendidas por partidos políticos e, com a eleição, quem tem mais votos, assume o poder para colocá-las em prática. Porém, na realidade, a ideologia deixou de nortear os governos e tem sido utilizada para justificar decisões que se afastam dos fatos da vida, o que vale tanto para partidos como para os governantes.
Para alcançar os fins propostos por qualquer visão ideológica se impõe viabilizar os meios. No plano econômico, é fato que a inflação, afeta com muito mais força a população carente, que são os mais sacrificados, e decididamente o desequilíbrio fiscal pressiona a inflação, causando o aumento dos juros, o que ocorre independentemente de qualquer bom propósito defendido por legítimos ideais.
No dia primeiro de janeiro renovamos a esperança de termos um governo à altura dos enormes desafios e, sem esquecer a ideologia, saber que diante dos fatos, que se impõem, devemos ponderar como agir.
Já na defesa do meio ambiente, é certo que os operadores mais avançados do agronegócio combatem o desmatamento e viabilizam ações sustentáveis, fortalecendo a presença no mercado internacional. Na área da segurança pública, o combate às organizações criminosas não significa prejudicar a população da periferia, que, aliás, é a maior refém dessas estruturas voltadas para o contrabando, tráfico de drogas e de armas.
Esses três setores são afetados pela visão distorcida da ideologia e o governo eleito deve se afastar de armadilhas que podem desviar a realização de objetivos fundamentais para o êxito da administração pública que terá um enorme desafio a partir do próximo ano. Na economia, a reforma tributária é tratada como prioridade e deverá ser aprovada no próximo ano, resta saber qual. O consenso é a diminuição da carga tributária incidente sobre o consumo e diminuir a regressividade que onera os mais pobres.
Ainda assim, a grande questão é como fazer sem afetar a atração de investimentos e assegurar a segurança jurídica. Já no meio ambiente, é fundamental estimular e fortalecer a sustentabilidade do agronegócio e combater quem exerce atividades predatórias que não só causam sérios danos ambientais como prejudicam a inserção da nossa produção no mercado internacional.
Na área de segurança pública, devem ser garantidos os investimentos humanos, materiais e financeiros, que não devem ser contingenciados, com a integração e coordenação entre forças federais e estaduais e a identificação do modus operandi das organizações criminosas. Um fato que não pode ser menosprezado é que o mercado ilegal (contrabando, fraudes, pirataria e contrafação) financia o crime organizado que se fortalece, afrontando o Estado em todos os níveis, ameaçando toda a sociedade, especialmente os que moram na periferia.
No dia primeiro de janeiro renovamos a esperança de termos um governo à altura dos enormes desafios e, sem esquecer a ideologia, saber que diante dos fatos, que se impõem, devemos ponderar como agir. Em verdade, não podemos mais alimentar a frustração.
Edson Luiz Vismona, advogado, é presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial – ETCO; do Fórum Nacional de Combate à Pirataria e Ilegalidade e do Instituto Brasil Legal. Foi secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo.
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