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Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto/MG.
Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto/MG.| Foto: Alexandre Amorim/Wikimedia Commons

A Igreja Católica é um exemplo fascinante de instituição que tem durado mais de dois mil anos, sobrevivendo a várias mudanças sociais, políticas e culturais. Para muitos, católicos ou não, representa um caso de estudo de excelência institucional que poucas organizações conseguiram alcançar. Para colocar isso em perspectiva, pense no Império Romano, que durou cerca de mil anos antes de colapsar. A Igreja Católica, no entanto, continua a ser uma força viva, guiando milhões de pessoas ao redor do mundo.

Essa longevidade e resiliência levantam uma questão importante: o que faz uma instituição durar? O que podemos aprender com a estrutura e organização da Igreja Católica que pode ser aplicado a outras esferas da vida, como negócios, política ou organizações sociais?

Um dos ensinamentos mais profundos que a Igreja Católica nos oferece é a ideia da "comunhão dos santos". Esse conceito vai além da espiritualidade; ele serve como um modelo para qualquer organização que busca unidade e propósito. É a união espiritual de todos os fieis, vivos e mortos, que compartilham um mesmo objetivo: amar e estar com Deus.

No mundo corporativo ou em outras formas de organização, essa ideia pode ser traduzida como uma equipe ou grupo que trabalha em harmonia para alcançar um objetivo comum. Lembro de uma experiência particular que ilustra bem isso:  certa vez, eu estava no Texas com minha esposa e um de seus primos assistindo a um documentário sobre o programa espacial Apollo, especificamente sobre as missões Apollo 8, 9 e 10. Elas eram extremamente desafiadoras, muitas vezes envolviam fracassos e riscos consideráveis. No entanto, o que se destacou foi a dedicação e a unidade de propósito de todos os envolvidos, desde engenheiros até astronautas.

Quando saímos do cinema, o primo da minha esposa comentou algo que realmente me impressionou: “É incrível o que o ser humano pode realizar quando trabalha com humildade e em unidade.” Este comentário ressoou em mim, pois encapsula a essência da comunhão dos santos aplicada a qualquer esforço coletivo. Quando um grupo de pessoas se une com um propósito claro e compartilha de valores comuns, as possibilidades de realização são praticamente ilimitadas.

Outro aspecto fundamental da longevidade da Igreja é o valor dos ritos e processos bem definidos. Na Igreja, ritos não são apenas tradições; são processos de máxima excelência que garantem que a mensagem e a missão sejam transmitidas de maneira consistente ao longo dos séculos. Por exemplo, a liturgia da missa é um rito que, se não for executado corretamente, não realiza seu propósito espiritual.

Esse respeito pelos processos é algo que também pode ser observado em ambientes não religiosos. Recordo de uma reunião na empresa onde trabalho, quando discutimos como estruturar nossos contratos internos. Um dos advogados presentes, embora não fosse católico, fez um comentário perspicaz: "Os ritos importam." Ele estava se referindo à necessidade de processos claros e bem definidos nas reuniões e em todos os aspectos de nossa operação.

Há, hoje em dia, certa aversão aos ritos, como se a espontaneidade indicasse qualidade por si só. Mas reparem que estamos vivendo na era da tecnologia, dos aplicativos, da inteligência artificial – exatamente os campos onde se exige que as máquinas repitam processos com o máximo grau de exatidão e precisão. Ou seja, ritos. 

As ações humanas mais valiosas são aquelas protegidas por um rito. Se, por acaso, vamos ao médico e precisamos de uma cirurgia, esperamos que o cirurgião realize os processos seguindo o rito adequado do momento, com a separação dos materiais, organização da equipe médica, cuidados de segurança e manutenção dos equipamentos. Ou seja, os ritos são fundamentais para a preservação das atividades mais importantes.

Uma lição importante que a Igreja Católica oferece é o foco na qualidade, não na quantidade. Em muitas organizações, o sucesso é frequentemente medido apenas por números: mais membros, mais lucro, mais produtos vendidos. No entanto, a verdadeira medida de sucesso, como a Igreja nos ensina, deve ser a qualidade do trabalho realizado e o impacto positivo que ele tem nas vidas das pessoas.

É fato reconhecido pela hierarquia da Igreja que a quantidade de fieis de uma comunidade está diretamente ligada ao comprometimento vocacional que aqueles cristãos têm com seu chamado. A qualidade da vida individual de cada um é o fator que determina a quantidade de pessoas impactadas. É como aquela frase de São Francisco de Assis: “Tome cuidado com a sua vida, talvez ela seja o único evangelho que as pessoas irão ler”. 

A Igreja Católica também nos ensina a importância de uma abordagem centrada no ser humano. Em muitas empresas modernas, esse princípio tem sido adotado com sucesso. A Disney, por exemplo, é famosa por criar experiências mágicas que colocam o ser humano no centro de tudo. Essa abordagem reflete diretamente os valores cristãos de amor e cuidado com o próximo.

Em um mundo cada vez mais digital, onde a tecnologia muitas vezes mediatiza as interações humanas, é essencial que as experiências sejam projetadas com o ser humano em mente. Isso significa considerar não apenas a funcionalidade de um produto ou serviço, mas também a experiência emocional e o impacto que ele tem sobre as pessoas.

A Igreja Católica, com sua longa história de sucesso e resiliência, oferece muitos ensinamentos valiosos que podem ser aplicados em nossas próprias vidas e organizações. Seja através da unidade de propósito, da importância dos processos, da busca pela qualidade ou do foco no ser humano, há muito o que aprender com essa instituição milenar. Ao adotar esses princípios, podemos não apenas construir organizações mais fortes e eficazes, mas também criar um impacto positivo e duradouro no mundo.

Matheus Bazzo é fundador da Lumine e da Minha Biblioteca Católica.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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