Confúcio dizia que “mudar as leis é fácil; difícil é mudar a mente e o coração dos homens”. O problema racial nos Estados Unidos está, sob a ótica da lei, resolvido. Depois da criticada decisão da Suprema Corte no fim do século 19 criando a doutrina Separate but Equal, pela qual aos negros era dado o “direito” de ocupar os mesmos locais públicos que os brancos, desde que em ambientes separados, a jurisprudência americana evoluiu em meados do século passado. No caso Brown v. Board of Education, a Suprema Corte selou de direito – mas não de fato – o fim da segregação racial. Abriu espaço para os movimentos civis dos anos 60, cujo principal expoente foi Martin Luther King, imortalizado com seu famoso discurso “I have a dream”. King foi assassinado. O corredor Jesse Owens e o pugilista Muhammad Ali sentiram na pele o paradoxo de levar e elevar o nome dos EUA ao mais alto degrau do pedestal, mas sofrer nos próprios EUA a dor da rejeição pessoal: haviam chegado ao panteão dos heróis do esporte, vencendo tudo, todos e derrotando tabus; mas eram negros.

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O problema do racismo está na mente e no coração das pessoas que teimam em alimentar clichês superiores

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O problema do racismo está “confucionamente” na mente e no coração das pessoas que teimam em alimentar clichês superiores, estereótipos e preconceitos. E agem dentro dessas limitações e premissas, abrindo o caminho da intolerância e, com ela, o da violência. A atitude recente de policiais (brancos) contra negros nos EUA colocou querosene na chama da truculência e da injustiça contra as minorias. Em nenhuma das atuações policiais de Louisiana ou Minneapolis era necessário o uso de armas letais.

As mortes puxaram um gatilho ainda pior: um franco-atirador – que, para a maior frustração do candidato Trump, não era estrangeiro –, munido do “direito constitucional” de portar (várias) armas, resolveu contra-atacar assassinando cinco policiais que zelavam por uma manifestação pacífica – ironicamente, contra os atos policiais. A cena talionis de dente por dente, olho por olho se repetiu na cidade de Baton Rouge, onde três policiais foram mortos.

Hoje os EUA estão confusos e vivem, em plena corrida eleitoral, um clima de divisão e perde-perde. Há maçãs podres e sadias no seio de qualquer sociedade ou organização. Achar que são podres pela simples cor da pele, opção sexual, religião, local de nascimento, defeito físico ou mental é algo lamentavelmente hitleriano. Em um mundo no qual assistimos diariamente a tantos avanços tecnológicos há também um outro avanço: o do odioso e jurássico retrocesso comportamental.

Mauricio Gomm Santos é advogado.