Há alguns meses, um exercício de uma apostila do ensino fundamental gerou polêmica nas redes sociais. O exercício era sobre afinidades de meninos e meninas e pedia para os alunos sinalizarem os itens e tarefas de acordo com o gênero. Dentre as questões estavam tarefas domésticas, comportamentos e brincadeiras. A questão abriu uma discussão sobre o que deve ser atribuição de cada um. Muitos criticaram e consideraram a tarefa sexista. Por outro lado, algumas pessoas apoiaram a iniciativa e viram como uma oportunidade para gerar o debate.
A igualdade de gêneros continua sendo um assunto muito polêmico, tanto dentro de casa quando no meio escolar. Porém, alguns valores devem vir de casa, pois determinadas barreiras e costumes só poderão ser quebrados se a criança tiver bons exemplos para seguir. Por isso a conscientização deve acontecer já na infância, quando os pequenos aprendem o conjunto de valores e regras. Isso vai ajudar a definir quem elas serão no futuro e no que acreditarão como certo.
Na escola, os esforços devem ser voltados para que os alunos aprendam que não existem diferenças entre eles, e que as oportunidades serão iguais para todos, seja homem ou mulher. Isso também contribuirá para diminuir preconceitos, que, infelizmente, ainda estão presentes na nossa cultura, e aumentar a relação de respeito com o próximo. Esse é o primeiro passo para conseguirmos construir uma sociedade com menos preconceitos.
Na prática, as crianças precisam vivenciar isso e saber que a responsabilidade de deixar a casa organizada ou lavar uma louça, por exemplo, é tanto do pai quanto da mãe. Da mesma forma que a mãe tem toda a capacidade para trabalhar, pagar as contas e administrar a família. Na vida escolar não é diferente: o maior o exemplo é o pai e a mãe frequentarem as reuniões de conselhos de classe de igual maneira, além de participarem das tarefas diárias da criança.
Os casos mais difíceis para quebrar esse tipo de paradigma são nas famílias com filhos e filhas da mesma idade. É comum verificar situações em que a menina deve ajudar a mãe nas tarefas domésticas, enquanto o filho vai jogar bola, por exemplo. Essa realidade precisa ser mudada, pois na visão da criança aquilo passa a ser um padrão familiar correto. Por isso as tarefas devem ser iguais para ambos.
Nas atividades extracurriculares também não devem existir regras. Se a menina quer praticar algum esporte considerado "masculino", por exemplo, qual o problema? Da mesma forma se o menino prefere praticar outro tipo de atividade como aulas de música ou de dança. Não podem existir condicionamentos e os pais devem deixar de lado suas próprias resistências. O mesmo vale para as brincadeiras. Se a criança gosta de um brinquedo que é diferente daquilo que o pai ou a mãe esperava, isso não pode ser visto como negativo e sim como uma oportunidade para o filho explorar outros conhecimentos e aprender coisas novas.
Por último, não se deve incentivar comportamentos como "meninos não choram" ou "rosa é cor de menina". Essas frases são carregadas de preconceito e só desestimulam a criança, podendo refletir na maneira como demonstra sentimentos e anseios. Estimular o respeito entre meninos e meninas é uma tarefa que dever ser trabalhada em todos os aspectos. Somente assim conseguiremos ter uma sociedade menos desigual.
Alexandra Lima é coordenadora pedagógica do Centro de Educação João Paulo II.