Mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas pelas cheias no RS.| Foto: Gustavo Mansur / Palácio Piratini
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Embora seja cedo para calcular os prejuízos da tragédia climática das chuvas que atingem o Rio Grande do Sul, é possível ao menos sinalizar algumas condições futuras para um dos mais importantes setores para a economia nacional, ou seja, o agronegócio. O setor exportou em 2023 produtos no valor de US$ 167 bilhões em números redondos, ou seja, quase metade da pauta exportadora total.

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Considerando uma estimativa da área destinada à produção de grãos e proteína animal, o Rio Grande do Sul ficaria entre os dez ou quinze maiores produtores. Estima-se que o estado destina, dos 280.000 km2 do agronegócio, 250.000 km2 para a produção de arroz, milho, trigo e soja. Nessa condição, o estado se posiciona como o maior produtor brasileiro de arroz e trigo, o terceiro mais importante na oferta de soja, e o décimo primeiro no plantio de milho. Portanto, o drama vivido no Sul com as chuvas não atinge apenas em cheio a economia local, mas seus reflexos se estendem para as demais regiões e, também, é claro afetam sensivelmente as condições das contas nacionais.

As chuvas vão impactar diretamente na competitividade no agronegócio brasileiro, responsável por grande parte da economia nacional. Mas internamente suas consequências serão ainda mais pronunciadas, ao menos no curto prazo. Isso se deve principalmente ao comprometimento na disponibilidade de arroz. O produto, 70% proveniente do Rio Grande do Sul, é um dos itens mais importantes na formação do IPCA, pesando mais acentuadamente no orçamento das famílias menos abastadas. Em que pese o fato de a maior parte já ter sido colhida os seríssimos obstáculos à mobilidade reduzem a oferta e elevam o preço médio do arroz em todo país.

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Os impactos imediatos, restrições da oferta, destruição da infraestrutura e desarticulação dos processos, infelizmente e evidentemente, não são os únicos para o agronegócio brasileiro. No longo prazo, o desastre climático deve empobrecer a qualidade do solo. A força da água ao mesmo tempo em que varre a superfície, diminuindo a quantidade de nutrientes, também contamina essas áreas com substâncias poluentes presentes na enxurrada.

Evento dessa magnitude não é resultante da imprevisibilidade. Quando, como e qual a intensidade sim, é difícil prever. Mas, é sabido que podem ocorrer. Aliás, em 1941 já aconteceu. Por isso uma grande obra de engenharia foi realizada de modo a deter a força avassaladora da água. Entretanto, tudo indica que, como sempre acontece, não se cuidou adequadamente da manutenção do sistema.

Jared Diamond, antropólogo, escreveu dois livros orientados pela mesma ideia: Armas, germes e aço e Colapso. Sinteticamente, pode-se depreender desses dois interessantes textos que estudar o passado nos ensina o que evitar e o que emular. Ao que parece, ou não estudamos ou então temos dificuldades de compreensão. Muito provavelmente, observando o papel e o desempenho do Estado no cuidado com a coisa pública, é a soma de ambos, isto é, leniência e incompetência.

Claudio Felisoni é presidente do IBEVAR e professor da FIA Business School.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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