"Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens viu que uma grande tropa de varas e ministros da justiça levava a enforcar uns ladrões e começou a bradar: lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos…"
Sermão do Bom Ladrão - Padre Antônio Vieira
A corrupção no Brasil é apontada desde 1654 e foi documentada, pela primeira vez, em 1655, pelo Padre Antônio Vieira no Sermão do Bom Ladrão. À medida que nos aproximamos de um período eleitoral, é essencial refletir sobre o papel da Justiça, especialmente quando se trata de combater a corrupção que assola nosso país. Tenho me destacado como uma voz firme em defesa da Operação Lava Jato, e os resultados de uma recente pesquisa realizada pelo Instituto Quaest só reforçam meus argumentos e fortalecem minha posição.
Esse estudo, conduzido presencialmente com 2 mil pessoas em 120 cidades brasileiras entre os dias 25 e 27 de fevereiro, revelou uma série de percepções interessantes sobre a Lava Jato e seu impacto na política nacional. De acordo com os dados levantados, 42% dos entrevistados acreditam que a Operação Lava Jato foi encerrada por pressão de políticos brasileiros. Esse número é alarmante e destaca a interferência política em um dos maiores esforços anticorrupção já realizados em nosso país e no mundo.
O Judiciário é, escancaradamente, em sua maioria alinhado com o governo federal desde que foi criada uma narrativa absurda e reversa de “defesa da democracia”.
É importante ressaltar que a Operação Lava Jato teve um impacto significativo desde o seu início em março de 2014. Originada a partir de um caso de lavagem de dinheiro na Petrobras, a investigação se expandiu para outras estatais, empresas privadas, políticos e executivos. Suas 80 fases revelaram uma teia de corrupção que abalou as estruturas do poder no Brasil.
A pesquisa revelou que 70% dos entrevistados acreditam que o Supremo Tribunal Federal (STF) incentiva a corrupção ao reverter as decisões da Lava Jato. Essa percepção é crucial, pois destaca a importância de manter a independência do poder judiciário e garantir que as investigações anticorrupção sejam conduzidas de forma imparcial e eficaz. Mas acima de tudo, que o Judiciário julgue e deixe ações políticas para o Executivo e o Legislativo.
Nas eleições de 2022, vários condenados na Lava Jato – mas perdoados pelo sistema – voltaram ao cenário político. A começar pelo presidente Lula, e a exemplo do agora deputado federal Beto Richa ou do ainda tão poderoso Sérgio Cabral, livre, leve e solto, apesar de ter sido condenado em 23 ações por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro, acumulando uma pena de 425 anos e 20 dias. Por pouco, o mega condenado não foi homenageado como enredo de escola de samba em 2024.
Bilhões de reais desviados que foram assumidamente comprovados pelos réus foram perdoados por ministros, em uma sarcástica novela de amizades. Citado como “amigo do amigo do pai” de Marcelo Odebrecht, o ministro Dias Toffoli suspendeu o pagamento de multa de R$8,5 bilhões da empreiteira. As decisões muitas vezes inconstitucionais do Judiciário influenciaram diretamente as últimas eleições. Tanto na absolvição de condenados pela Operação quanto nas decisões de censura durante a campanha, que foram consideradas, por diversos grupos da direita, subjetivas e arbitrárias.
O Judiciário é, escancaradamente, em sua maioria alinhado com o governo federal desde que foi criada uma narrativa absurda e reversa de “defesa da democracia”. Ironicamente, isso acontece enquanto os poderes se mesclam, desequilibrando os freios e contra pesos, ferindo o princípio constitucional da independência entre eles.
Em um ano eleitoral, em que existe financiamento de campanha – nem sempre de forma ética, é fundamental que os eleitores estejam cientes do impacto da corrupção nas eleições e do papel crucial da justiça na garantia da integridade do processo político.
Precisamos cobrar de todos os poderes os princípios verdadeiramente democráticos, fundamentais para o fortalecimento das instituições brasileiras e para a construção de um futuro mais justo e transparente para todos. O sistema pode ter destruído a Operação Lava Jato, mas jamais vamos deixar morrer a luta contra a corrupção acendida por ela.
Que os princípios e valores do Padre Antônio Vieira, que apontou o comportamento imoral da nobreza à época, durante a colonização do país, nos inspire a continuarmos lutando para que os verdadeiros ladrões estejam na prisão.
Fabio Oliveira é deputado estadual pelo Podemos-PR.
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