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A popularização dos cursos e livros sobre treinamento de sono em bebês, especialmente aqueles que ensinam a colocar a criança acordada no berço, tem levado muitas mães à ideia equivocada de autonomia precoce para dormir. O bebê humano vem ao mundo bastante dependente da família, como em uma exterogestação (gestação fora do útero), provavelmente decorrente da desproporção entre o tamanho da cabeça, necessário para acomodar o nosso cérebro, e a pelve feminina bípede.
Em razão disso, o bebê depende da presença dos pais para seu adequado neurodesenvolvimento. O estresse decorrente dessa ausência gera o chamado desamparo aprendido, que leva o pequeno a simplesmente parar de chorar porque ninguém o consola, e ele entende que gastar energia para isso não adianta — mas isso não significa que se tornou autônomo.
Além disso, o sono de qualidade é um dos maiores predisponentes do QI infantil. Na ausência do afago, o cérebro passa a usar a energia e a aumentar o volume de sangue nas áreas de sobrevivência, reduzindo o aporte para uma área cerebral chamada córtex pré-frontal, relacionada à nossa racionalidade e ao controle emocional necessário para conter as birras.
O método chamado “bebê canguru” coloca os prematuros em contato com os pais, em vez de incubadoras. Esta é uma prova do sucesso das medidas afetivas. Ao observar que, mesmo com o aporte calórico adequado, recém-nascidos na ausência dos familiares não ganhavam peso, teorizou-se que os bebês estavam sob estresse de abandono e desviando energia para as áreas de sobrevivência. Na presença do calor humano, passaram a ter pesagem considerada adequada para a faixa etária.
Portanto, compreende-se que dormir adequadamente desde bebê e ter a presença reconfortante do calor humano contribui sobremaneira para o desenvolvimento da inteligência e do autocontrole futuro da criança.
Isabel Braga é médica, doutora pela Fiocruz, referência em transtornos do sono e autora do livro "Noites de Renovação".
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos