Em 7 de abril a Polícia Militar assassinou a tiros Vilmar Bordim, 44 anos, casado, pai de três filhos; e Leomar Bhorbak, 25 anos, que deixou esposa grávida aos nove meses. Além das mortes, a polícia também feriu outras seis pessoas durante o massacre. Nos últimos 20 anos foram assassinados no Paraná, em conflitos pela terra, 20 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). A Polícia Militar participou diretamente de dois homicídios – de Teixeirinha (1993) e Antônio Tavares (2000). Em apenas dois dos 20 casos – nos assassinatos de Eduardo Anghinoni (1999) e Sebastião Camargo (1998) – houve responsabilização criminal de um pistoleiro e de um fazendeiro. Em todos os casos permanecem absolutamente impunes os mandantes e reais articuladores dos crimes.
A falta de investigação e punição dos responsáveis pelos assassinatos já fez com que o Estado brasileiro fosse condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 2009, no caso do homicídio de Sétimo Garibaldi (1998). Naquela oportunidade, a corte sentenciou que “uma das formas mais relevantes para combater a situação de impunidade em casos como o presente é investigar a atuação dos agentes estatais envolvidos”, bem como que a ausência de combate à violência “propicia a repetição crônica”. A perpetuação da situação de impunidade ainda pode gerar condenações ao Estado perante a corte nos casos dos homicídios de Antônio Tavares (2000) e Elias de Meura (2004), que aguardam julgamento na instância internacional.
Vilmar Bordim e Leomar Bhorbak são vítimas da resistência conservadora à realização da reforma agrária
A agonia do Brasil
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Leia artigo do advogado Antônio Carlos FerreiraA despeito da ausência de responsabilização criminal junto aos órgãos de Justiça do Paraná nos 20 casos de homicídio contra integrantes do MST, no ano de 2005 a Polícia Federal deflagrou a Operação Março Branco, desmantelando milícia armada financiada por fazendeiros para realizar ataques contra o MST. Durante a operação foi preso o tenente-coronel da PM Valdir Copetti Neves. Passados 11 anos, a ação penal que acusa Neves e outras pessoas de crimes relacionados a ações ilegais contra o MST não chegou ao fim.
Os assassinatos ocorridos esta semana, bem como os demais 18 ocorridos nos últimos 20 anos, além da situação de impunidade, têm em comum a resistência à realização da reforma agrária, política pública obrigatória e prevista na Constituição. No caso ocorrido nesta semana, o conflito fundiário relaciona-se com a posse ilegal de 63 mil hectares de terras pela empresa Araupel. A Justiça Federal decidiu, em dezembro de 2015, que o título de propriedade da empresa é absolutamente nulo, pois foi emitido ilegalmente pelo então governador Moysés Lupion, em terras que pertencem à União. O MST reivindica que os 63 mil hectares de terra apossados ilegalmente pela Araupel sejam devolvidos à União e destinados ao assentamento de mais de 1,2 mil famílias. Vilmar Bordim e Leomar Bhorbak são, em verdade, vítimas da resistência conservadora à realização da reforma agrária.
Não será possível a construção de uma sociedade democrática, justa e solidária sem que os agentes privados poderosos e de Estado paguem por seus crimes, bem como sem que seja feita uma justa distribuição da terra, elemento essencial para garantir vida digna a quem vive no campo.
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