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Presidente Jair Bolsonaro aposta em programas sociais para ampliar popularidade para reeleição em 2022
Presidente Jair Bolsonaro aposta em programas sociais para ampliar popularidade para reeleição em 2022| Foto: Alan Santos/PR

O cenário para o próximo ano se mostra bastante desafiador. Entraremos em 2022 com elevada inflação e desemprego, fim dos estímulos monetários decorrente do ciclo de aumento da taxa de juros, além de pressão nos preços e na capacidade produtiva decorrente da escassez de energia elétrica e interrupções em elos das cadeias globais de valor.

No front externo, existem possibilidades de novas ondas da pandemia com novas variantes que se mostram resistentes às vacinas atuais, possibilidade de desaceleração das economias chinesa e americana, além de dificuldades enfrentadas pelos países europeus e Japão em estabelecer uma retomada econômica mais sólida. Vários países têm experimentado aumento da inflação como efeito colateral da pandemia nas cadeias globais de valor, o que pressiona para aumentos dos juros em vários países.

Apesar da série de desafios apontados acima, dois outros se destacam e mostram maior capacidade de afetar o desempenho da economia brasileira. O primeiro é a questão fiscal, que já foi bastante enfatizada nos últimos anos e que depende de reformas estruturantes, como a tributária, no sentido de simplificar os impostos, de tornar sua estrutura mais racional para reduzir distorções produtivas, além da desvinculação de parte dos gastos às receitas públicas. O segundo é a incerteza política que tem efeitos consideráveis no cenário econômico, jogando mais incerteza em um ambiente que já é desafiador.

Em relação ao primeiro desafio, o histórico do presidente como político corporativista e sem um histórico de defesa de maior liberdade econômica e aumento da eficiência produtiva se mostrou mais forte do que uma equipe econômica que tinha pretensões de levar adiante reformas ambiciosas e importantes no sentindo de controlar os gastos do governo, promover o setor privado e elevar a produtividade econômica. Não há esperanças de que algo vá mudar em 2022, nem mesmo em um eventual segundo mandato do presidente.

Em relação ao segundo desafio, presenciamos, recentemente, a capacidade do presidente em mobilizar certas categorias de sua base de apoio de forma a causar impactos imediatos sobre a ordem econômica e social. Apesar do recuo do presidente nas últimas semanas, não há garantias que comportamento semelhante não irá ocorrer em 2022 durante o processo eleitoral. Diria até mesmo que seria esperado.

Não há esperanças de que algo vá mudar em 2022, nem mesmo em um eventual segundo mandato do presidente.

As pesquisas eleitorais, as perspectivas econômicas, o comportamento beligerante do presidente, além de várias derrotas que ele vem colhendo, mostram que os desafios para conseguir a reeleição serão enormes. Caso esse cenário se mantenha em 2022, a tendência é de radicalização no comportamento do presidente, trazendo ainda mais incerteza política e isolamento político, o que pode levar a novas rodadas de radicalização, incerteza e perda de apoio.

Em várias ocasiões, o presidente já colocou que não irá sair do poder via processo eleitoral e democrático. Por outro lado, ele já mostrou que pode fazer muito mais do que barulho, colocando em risco a estabilidade política e a frágil retomada da economia, com sérios danos à população brasileira, sobretudo dos menos favorecidos. Se Trump causou vários episódios que geraram e ainda geram incerteza e instabilidade em uma das democracias mais consolidadas do planeta e com instituições sólidas, o estrago que Bolsonaro pode causar no Brasil é muito maior!

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor associado da Fearp/USP e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia da Fearp/USP.

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