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Os indicadores da economia no início de 2023 já apontavam que, ao longo do ano, o cenário da construção civil poderia melhorar. A tendência que se observou neste segundo semestre, com a queda na taxa de juros e na inflação, pode se concretizar em 2024 e o setor tem alguns motivos para esperar crescimento mais robusto para o próximo ciclo de 365 dias que se inicia. Para entender esse cenário, é necessário analisarmos alguns números tanto do início do ano de 2023 quanto os mais recentes e as projeções para o novo ano.
É importante mencionarmos, de início, a Taxa Selic, que é o índice básico de juros do mercado e que impacta na economia como um todo. Quando esta taxa está em alta, o acesso ao crédito para os consumidores diminui, o que derruba a procura por financiamentos de imóveis. Como consequência, a construção civil fica receosa em arriscar novos empreendimentos. Contudo, a taxa que estava na casa dos 13,75% até a metade do ano deve fechar 2023 em 11,75%. Ainda que esteja na casa dos dois dígitos, a projeção do Boletim Focus do Banco Central divulgada no final de novembro aponta que, para 2024, o índice deve ficar em 9,25%. Isso é um alívio para o setor produtivo, que pode seguir mais confiante para investir.
Da mesma forma observamos a tendência de queda na inflação, tanto para as empresas quanto para o consumidor final. O Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que em janeiro de 2023 estava com acumulado de 9,05% em doze meses, chega ao mês de novembro com 3,33%, uma queda acentuada de quase seis pontos percentuais, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Caso o cenário de juros futuros se confirme, poderemos observar perspectiva mais otimista para o ano que se inicia quanto aos preços na construção civil, ao menos de estabilidade em índices mais baixos.
Em outro panorama, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede o impacto direto da alta nos preços para a população em geral, também caiu durante o ano. Se em janeiro o acumulado de 12 meses era de 5,77%, no mês de outubro o valor caiu para 4,82%. O relatório do Boletim Focus estipula o índice em 3,91% até o final de 2024. Entender essa dinâmica é necessário para saber como a população pode se comportar em sua perspectiva futura como consumidora. Manter esse índice baixo pode resultar em melhoria no cenário tanto para quem compra quanto para quem produz e vende.
Mais um termômetro que pode indicar melhora para a construção civil é o mercado de trabalho. Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, nos primeiros dez meses de 2023 observamos que o setor foi o segundo com maior número de vagas de emprego criadas no país, com saldo positivo de 253.876 postos de trabalho a mais na comparação com o início do ano. Ainda que o número seja menor do que os dez primeiros meses de 2022 (quando chegou a 290.197 vagas criadas), o saldo ainda se mantém em um patamar alto e promissor. A abertura de vagas de trabalho é o resultado de um cenário positivo: se as empresas podem e se sentem mais confiantes para investir, também conseguem contratar.
Por fim, o PIB do setor, segundo a Câmara Brasileira de Construção Civil, deve fechar o ano com alta de 1,5%. O índice está abaixo do registrado no ano passado, quando foram 6,9% de alta. Entretanto, mesmo com o cenário de incerteza devido à alta taxa de juros em boa parte do ano, a área se mostrou resiliente e manteve a abertura de vagas de emprego e os investimentos.
As projeções precisam se confirmar com o passar dos meses no ano de 2024 para que o setor continue criando confiança para investir. Caso a inflação se mantenha estável e a queda na Taxa Selic continue, teremos um caminho mais consolidado para que o PIB do setor possa crescer. Para isso, as medidas de controle de preços e de juros precisam caminhar juntas, para que nem um lado prejudique o outro. Além disso, os investimentos tanto em programas de moradias populares como nas oportunidades de financiamento aos compradores, se forem mais concretizados e ampliados, também podem resultar em aquecimento para a construção civil. Como resultado, ganha o setor produtivo, ganham os consumidores com novos empreendimentos e também se beneficiam os atuais e futuros empregados das obras, para que tenham mais segurança na empregabilidade.
Maurício Wildner da Cunha é engenheiro civil da Construtora Andrade Ribeiro.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos