Entramos em mais um ano agitado politicamente, mas como pessoa da indústria acredito que, ao menos na parte de dentro da economia, os planos seguem normalmente. Apesar de o cenário de instabilidade estar longe do ideal para qualquer economia, e mesmo com previsão de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil menor do que em 2022 (1,6% em 2023, ante 3,1% previsto para 2022) devido às altas taxas de juros, inflação elevada e menor crescimento mundial, vemos com alívio que os projetos industriais continuam. E isso em várias áreas produtivas.
Um exemplo é a produção de fertilizantes, insumo essencial para tocar nossa locomotiva brasileira, que é o agronegócio. Com o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), a ideia é reduzir a dependência de importação dessa matéria-prima, pois hoje 85% dos fertilizantes utilizados vêm de fora do país.
Pensando em fontes de energia renovável, o Brasil é o terceiro maior produtor, atrás apenas de EUA e China, sem falar na competitividade do preço que conseguimos praticar.
Ao estimular a produção nacional, o projeto brasileiro é desenvolver novas tecnologias e produtos, bem como ampliar a eficiência daqueles já utilizados. Deixo aqui a recomendação que todo engenheiro que atende o setor agro pode confirmar: mais do que nunca, é hora de investir em novas tecnologias que garantam a sustentabilidade e eficiência de toda a cadeia produtiva.
Digo isso pensando especialmente na redução de contaminações, pois este é um problema que o consumidor atento ao meio ambiente e à saúde de sua família não aceita mais. E somente equipamentos atualizados tecnologicamente poderão suprir essa demanda. Se vamos investir, que seja com máquinas e equipamentos atualizados e que coloquem nossos bens agrícolas exportados entre os mais sustentáveis do planeta.
Outro destaque é a capacitação de nosso parque de hidrogênio verde (H2V), pois o Brasil tem potencial não apenas para desenvolver essa fonte energética, como tornar-se um grande exportador. Isso porque o hidrogênio tradicional depende de fonte fóssil, mas o Brasil pode liderar a corrida internacional pela variante limpa, devido à abundância de água, insolação e ventos – com foco no Nordeste brasileiro. Com isso, o país poderá ter o hidrogênio verde mais barato do planeta.
Pensando em fontes de energia renovável, o Brasil é o terceiro maior produtor, atrás apenas de EUA e China, sem falar na competitividade do preço que conseguimos praticar. Porém, para atender a demanda do H2V, os investimentos necessários são estimados em US$ 200 bilhões até 2040, conforme a consultoria McKinsey. O maior desafio é logístico – como transportar esse produto com segurança. Novamente aqui entram as válvulas e dutos, equipamentos fundamentais em qualquer indústria que lide com fluidos líquidos ou gasosos.
Outros projetos da indústria brasileira para 2023 incluem suprimentos químicos, e um grande fluxo de investimentos é esperado na área de saneamento. Desde o Marco do Saneamento, de 2020, são estimulados projetos privados em novas plantas e ampliações, que visam suprir a enorme demanda brasileira por levar encanamento a 100% do território nacional. Novamente aqui entra a necessidade de evitar perdas, visto que cerca de 40% da nossa água é perdida no processo de distribuição. Além disso, sabemos que a postura do governo federal é nacionalizar tecnologias, o que vem em bom momento para a indústria e seus investimentos.
Como se vê, trabalho não falta. Torcemos por dias mais previsíveis e menos turbulentos, com a certeza de que a indústria brasileira está capacitada para atender grandes demandas nacionais e internacionais.
Mateus Souza é gerente da área industrial da GEMÜ do Brasil.
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