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É triste constatar que a falta de informação e o alto custo do tratamento de glaucoma ainda são um peso intolerável para boa parte da população. Tudo seria bem mais fácil se os pacientes tivessem acesso aos medicamentos mais eficientes e a um atendimento adequado, o que ainda não é regra no setor público.

Exame oftalmológico é assunto sério. Principalmente quando se trata de glaucoma – doença ocular que, se não for diagnosticada a tempo e tratada de maneira correta, leva à perda gradual da visão e até à cegueira. A estatística é cruel. Numa região metropolitana de 3 milhões de habitantes, espera-se encontrar cerca de 60 mil portadores de glaucoma, dos quais mais de 30 mil provavelmente não têm a mínima idéia. Os demais 30 mil dificilmente têm acesso a serviços profissionais com treinamento adequado, para diagnóstico e tratamento com êxito do glaucoma.

A doença age em silêncio e lentamente. Quando o portador percebe algo errado nos olhos, já está com uma perda de 40 a 50% das fibras nervosas que constituem o nervo óptico – via que conduz as impressões visuais do olho até o cérebro. Por isso, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maior a chance do paciente receber ajuda adequada. Vale ressaltar que cerca de 80% da informação que o ser humano adquire na vida são captados pela visão. Portanto, permitir que a doença se agrave é o pior caminho.

Se faltam informação e tratamento adequado na saúde pública, como prevenir o glaucoma? A boa notícia é que a doença pode ser controlada e há vários novos recursos para o tratamento. Então, por que não tentar minimizar a gravidade do problema? É aí que entra a missão dos oftalmologistas, procurando mostrar às autoridades a real necessidade de combater o glaucoma e assim proporcionar à população carente o acesso à saúde visual.

Não há dúvida de que o glaucoma preocupa médicos de todo Brasil. A Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) tem trabalhado arduamente para tornar accessível à população o tratamento do glaucoma, via preços subsidiados. A luta já mostra resultados. Campanhas públicas como o Brasil Contra o Glaucoma, a ser realizada hoje e amanhã (22 e 23 de maio), constituem prova irrefutável de que solidariedade e profissionalismo podem caminhar juntos. A campanha contemplará várias cidades do país: Manaus, Salvador, Recife, Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Campinas, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e também o Grande ABC. Seu objetivo é conscientizar e ajudar cerca de 30 mil pessoas com mais de 45 anos, através de exames e encaminhamento para tratamento gratuito contra o glaucoma.

A iniciativa deste ano é inspirada em eventos semelhantes, realizados no ano passado, como o Glaucoma no Pelourinho, em Salvador, e Recife Contra o Glaucoma, na capital pernambucana. Neles, foi possível examinar e encaminhar pessoas carentes, que não tinham acesso a tratamento e acompanhamento da doença, ao Sistema Público de Saúde para receberem a atenção de médicos especializados. Durante a ação desenvolvida no Recife, por exemplo, os médicos tomaram conhecimento de um fato estarrecedor: de todas as pessoas examinadas, mais de 40% jamais tinham consultado um oftalmologista. Se não houver uma mudança urgente neste quadro, o que será do futuro destes e de tantos outros portadores? Somente com um alerta geral à sociedade – aliás, um dos propósitos da campanha Brasil Contra Glaucoma –, será possível evitar que milhares de novos casos de cegueira irreversível surjam a cada ano.

A SBG espera que o poder público reconheça o glaucoma como problema de saúde pública. É necessário reavaliar os chamados centros de referência para acompanhamento e tratamento da doença, já existentes, bem como a desburocratização para o credenciamento de outros, para que seja possível atender a imensa população necessitada. Dessa forma, será possível dar passos concretos rumo ao controle do glaucoma, este "inimigo oculto e silencioso" que precisa ser combatido. Com urgência.

Roberto Galvão é presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma.

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