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Inovação social para ajudar os moradores de rua de Maringá

Vista área de Maringá
(Foto: Divulgação)

Ronado Nezo, doutor em Educação pela UEM, destaca a importância de o professor valorizar-se, de investir na sua própria formação e compreender o mundo das tecnologias virtuais; também destaca a falta de qualidade da educação brasileira, ao afirmar que os indicadores de qualidade são os piores possíveis. Nezo sugere reinventar a educação, pois o aluno já não aprende do jeito tradicional e estudos confirmam que o cérebro tem se tornado incapaz de se concentrar, visto o uso das tecnologias de forma abusiva e indevida, o que tem efeito nocivo na aprendizagem.

Além da questão do ensino e do aprendizado, há a dificuldade dos brasileiros em passar pelo processo de refino cultural após a prisão de dois presidentes e o impeachment de outro em um intervalo de dois anos. Grande parte dos brasileiros está paralisada por um sentimento de Schadenfreude, a palavra germânica que tem sido adotada pelo inglês e outras línguas porque não existe outro termo para descrever o que ela denota: o gosto malicioso de ver os infortúnios dos outros. A Schadenfreude reflete uma moral interior degradada, gerando um prazer quando a pessoa vê ou percebe as calamidades dos outros.

Nesse contexto de cultura capitalista e fechada para qualquer outra cultura, surgem alguns heróis humanistas, que tiveram acesso à educação e agora se preocupam com o acesso dos menos favorecidos a coisas básicas como alimentação e vestuário.

A 5.ª edição da pesquisa “A população em situação de rua em Maringá: desconstruindo a inviabilidade” revelou o crescimento de 61% dessa população entre 2017 e 2018, e mais 27% entre 2018 e 2019, segundo a coordenadora do Observatório das Metrópoles, Núcleo UEM/Maringá, Ana Lúcia Rodrigues. Isso significa que a taxa acumulada de aumento entre 2017 e 2019 é de 100%, isto é, o número de moradores de rua dobrou nos últimos dois anos. A pesquisa vai compor um relatório final comparativo entre os anos de 2015 e 2019, que será apresentado em audiência pública e entregue ao poder público local para subsidiar ações em favor dessas pessoas.

Importante notar, contudo, que nem o Observatório das Metrópoles, nem seus parceiros nesta pesquisa – o Centro de Referência Especializado para População de Rua (Centro Pop Rua), o curso de Serviço Social da UEM, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (Sasc) e o Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UEM – têm expertise em práticas de coleta e aplicação da inteligência coletiva na construção de políticas assistencialistas com contrapartida. Obviamente há orientação de abordagem aos pesquisados com apresentação da metodologia da pesquisa e estudos relacionados ao questionário da pesquisa, mas não há grupos temáticos, presenciais ou virtuais, para troca de conhecimentos e experiências em práticas e políticas de redução da pobreza. Um mendigo pode ter uma solução melhor que um pós-doutor no assunto, daí a necessidade da análise da discussão pelos mentores do projeto in loco a fim de entregar conclusões ao tomador de decisão.

O Dialoga Brasil é uma plataforma de participação digital criada em 2015 pelo governo federal e que apresenta 14 temas e 80 programas prioritários para que a população proponha melhorias nas políticas públicas e na vida dos brasileiros. Um caso é o do programa Vale Cultura, que tem como objetivo dar acesso a museus e outros mecanismos culturais aos trabalhadores, e que teve a seguinte proposta como a mais votada: estender o benefício do Vale Cultura a estudantes universitários por meio de parceria entre governo e universidades. O governo respondeu que o programa já beneficiou mais de 450 mil trabalhadores, tem mais de 39 mil estabelecimentos credenciados, entre cinemas, livrarias, teatros e outros (empresas recebedoras), e já movimentou mais de R$ 198 milhões no mercado cultural. Mas o cidadão esperava uma resposta concreta para a área acadêmica, e não os resultados do programa no setor privado. O governo poderia, por exemplo, ter respondido que as universidades já dão acesso à cultura por diversos departamentos, como os de cinema e artes cênicas, além de já existir o desconto de 50% para estudantes em eventos.

No caso da pesquisa do Observatório das Metrópoles, é necessário um processo de mobilização da comunidade local quanto à necessidade de participação para coletar e selecionar, por meio de uma plataforma criada pela UEM, propostas a serem entregues ao poder público, despertando a consciência coletiva para as situações atuais. Neste processo deve haver integração com entidades sem fins lucrativos que fazem trabalho de assistência a essas pessoas. Há, por exemplo, a associação beneficente Casa de Nazaré, que atende 22 mulheres dependentes de álcool e drogas acolhidas via triagem feita por psicólogo e assistente social; ou o albergue Santa Luiza de Marillac, que recebe 250 pessoas e hospeda 50 por dia.

Essa interligação entre o setor público, setor privado e a sociedade para trazer mais efetividade aos projetos da cidade é inovação social. “Inovação social” é um conjunto significativo de experimentações de novos arranjos institucionais participativos e integrados a partir dos pressupostos de descentralização, controle social e participação da sociedade civil e empresas na busca de capital social, o elemento aglutinador da sociedade contemporânea. A inovação social busca por oportunidades para que as pessoas vivam da própria renda e possam prescindir da assistência social, contribuindo para a melhoria das condições sociais e econômicas das comunidades que estão inseridas.

A inovação social é uma ótima solução para a construção de uma população mais solidária, compartilhando soluções para desenvolver, em especial nos menos favorecidos, a capacidade de resolver seus próprios problemas. Esse tipo de inovação é uma nova maneira de pensar e construir políticas públicas, a partir da transformação de caridade em inovação social colaborativa pela construção de relações do tipo ganha-ganha entre Estado e sociedade, um novo paradigma na área social.

Desse aumento exponencial de moradores de rua em Maringá e da pesquisa desenvolvida a respeito é possível promover um modelo e plano inovador de governança compartilhada, estimulando os cidadãos a participar e a colaborar ativamente na configuração de soluções inovadoras e sustentáveis para diminuir o sofrimento das pessoas que moram nas ruas.

Cristiano Trindade de Angelis é PhD em Gestão de Projetos, analista do Ministério da Economia e autor de “Gestão por inteligências”.

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