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O Ministério da Educação (MEC) publicou três datas diferentes para a retomada das aulas presenciais em menos de oito dias. A primeira seria 4 de janeiro de 2021; após muitos comentários contra esta insensatez – aplicada apenas para satisfazer o desejo do presidente na retomada das atividades – e uma reunião com representantes das instituições públicas e privadas, 48 horas depois, houve modificação para 1.º de março. Não demorou muito e, logo depois de mais repercussões negativas, nova mudança.
No dia 9 de dezembro foi publicado o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), com o endosso do MEC, que dá liberdade para as instituições conduzirem a retomada dos encontros presenciais de acordo com a sua realidade regional e condições de gestão da higiene sanitária institucional.
Para complementar a lambança, o MEC divulgou que os resultados do Enem 2020, das provas que foram adiadas para o fim de janeiro de 2021, não contarão para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para as instituições públicas de ensino superior. Assim, todos os alunos concluintes do ensino médio em dezembro de 2020 deverão contar apenas com as edições anteriores do Enem.
Apesar de este ter sido um ano muito atípico e de os alunos terem tido muita dificuldade de estudar, o fato de não se considerar o Enem 2020 no Sisu acaba por gerar mais desesperança e desmotivação aos estudantes que, de alguma forma, se dedicaram nos momentos mais difíceis para estudar da maneira que era possível.
Outro ponto é o momento inadequado para fazer esta divulgação. Se o exame tivesse de ser desconsiderado, isto deveria ter sido definido no início do semestre letivo, não após todos os esforços, ações e custos inerentes dispendidos.
Tal informação soa como inconsequente para os milhões de alunos que farão o Enem, para os seus familiares, para os educadores que trabalharam com estes alunos neste ano, e para as instituições de ensino superior públicas e privadas que organizaram os seus calendários escolares a partir de uma data após o fechamento do Sisu.
A expectativa era de que, com a prova do Enem no fim de janeiro e com o Sisu em andamento até o fim de março, o semestre letivo teria início em diversas universidades federais e também instituições privadas.
A máxima de que educação de qualidade se faz com planejamento, organização e rotina está sendo desprezada pelo órgão que mais deveria cultivar estes valores, o MEC. Mas esse parece ter se tornado costume deste governo.
César Silva é diretor-presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP), e foi vice-diretor-superintendente do Centro Paula Souza.