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Instituições ficcionais e a realidade ignorada

 | Marcos Correa/PR / Fotos Públicas
(Foto: Marcos Correa/PR / Fotos Públicas)

Não é de se estranhar que o Brasil seja o país das desproporções e da ausência de apreço pela realidade, começando por nossos intelectuais. Estes, corroborando a crítica de Eric Voegelin de “se fazer ciência pela ciência”, em sua maioria, se isolaram nas academias para resolverem os próprios problemas íntimos a ela, ao arrepio da realidade e dos problemas reais e mais imediatos. Já a maioria dos nossos agentes públicos não consegue mais vislumbrar essa banal realidade do que significou um dia interesse público e bem comum, e se conduzem por uma espécie de comportamento programado e já condicionado pelas próprias instituições constituídas. O resultado disso tudo? Uma nação historicamente comandada por uma horda de esquizofrênicos isolados de qualquer comunicação com aqueles que são a própria finalidade de suas retóricas e inacessíveis códigos de conduta: a pessoa humana.

A maioria dos nossos agentes públicos não consegue mais vislumbrar essa banal realidade do que significou um dia interesse público e bem comum

Enquanto representantes votam pautas alheias à vontade pública, como em Porto Alegre se votou pela ridícula proibição de canudinhos de plástico, ou mesmo o caso de um ministro do Supremo Tribunal Federal demonstrar a “sensibilidade” de, por via de liminar, tentar conceder a libertação de cerca de 25% dos presos brasileiros, sob pretextos técnico-constitucionais, a população, do lado de fora dessa bolha ficcional chamada “instituições brasileiras”, sem sucesso vêm constantemente gritando indignada, ainda que sem qualquer voz representativa e fiel nesse ambiente. A pauta? Nada além do velho bom senso, o mesmo que reagiu com ferocidade e coragem à grave infiltração institucional da esquerda até tornar Jair Bolsonaro o seu presidente da República.

É de admirar as mentes mais cautelosas que automaticamente nos clamam por prudência após o dia 1.º de janeiro. Contudo, mal sabem elas: é apenas um homem contra um “establishment” inteiro. É a chefia do Executivo contra todo um deep state já consolidado, com mais de 100 anos de domínio republicano patrimonialista. República esta apenas ficcional em suas finalidades de Estado de promover o bem comum e, por excelência, sempre desconectada da própria realidade.

Nem todo cidadão médio que olha externamente as nossas instituições vai conseguir expressar com a adequada linguagem essa desconexão, traduzida sobretudo na retroalimentação corrupta que impõe a sua própria manutenção mediante a violência de negociatas, às quais imagina existir e consegue comprovar pelos maus frutos gerados por elas. Contudo, pergunte a um desses cidadãos, ao mais simples e ao mesmo tempo mais experiente, o que ele acha de nossos governantes e de nossos ministros do STF, e veja a mágica de uma legítima indignação tomar materialidade perante a inércia tão violenta mantida por Brasília e por seus satélites federativos atuais.

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