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Inteligência Artificial: remédio ou veneno?

(Foto: Andy Kelly/Unsplash )

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O último ano comprovou uma verdade que todos suspeitávamos: estamos na era das possibilidades da Inteligência Artificial (IA). Para todo lugar que olhamos, na indústria, no comércio, na comunicação, existe alguma vertente de IA sendo utilizada para automatizar processos, otimizar resultados e criar mais segurança dentro de fábricas, lojas e da própria internet. Apesar do grande avanço que vislumbramos em 2023, essa é apenas a primeira fase de uma grande transformação na maneira de conduzir o trabalho, organizar os estudos e ter acesso ao lazer.

Segundo o National Academies of Sciences, Engineering and Medicine (NASEM), academia nacional dos Estados Unidos, o desenvolvimento da IA pode ser dividido em três momentos: Inteligência Artificial Estreita (ANI), Inteligência Artificial Geral (AGI) e Superinteligência Artificial (ASI). Ainda que estejamos na primeira etapa de seu desenvolvimento, a tecnologia já produziu enormes progressos nas áreas científica, econômica, de saúde e de produtividade. As possibilidades da Inteligência Artificial são infinitas.

Máquinas podem aprender, traduzir, prever e desenvolver conceitos além do programado por técnicos

Não à toa, estimativas da instituição financeira Goldman Sachs indicam que a disciplina irá movimentar mais de US$ 200 bilhões até o fim de 2025. Por outro lado, o sem-número de vantagens não pormenoriza os cuidados a serem tomados com as possibilidades de uso da Inteligência Artificial. Na mesma proporção que a tecnologia disponibiliza ferramentas para a construção de uma sociedade mais democrática e conectada, ela proporciona meios de mostrar o lado mais obscuro da humanidade, a exemplo de deepfakes e golpes que mimetizam a voz, o rosto e se apossam de informações sensíveis.

O sucesso ou fracasso de grandes tecnologias sempre atende a uma norma: a escala. Grandes invenções como o livro, a informática e a internet só tiveram impacto na humanidade porque foram massificadas e incorporadas ao cotidiano de forma decisiva. Com a Inteligência Artificial não tem sido diferente. No entanto, diferentemente do telefone e do smartphone, modelos de IA não dependem apenas de mentes humanas para seguirem em frente. Graças a grandes modelos de linguagem (LLM, em inglês), máquinas podem aprender, traduzir, prever e desenvolver conceitos além do programado por técnicos.

Isso não significa, todavia, que a IA irá substituir o intelecto humano no curto e médio prazo, mas sim que isso poderá ser potencializado com ferramentas de produtividade, aprendizado e automação de tarefas. Afinal, perto de uma máquina, nunca escreveremos, desenharemos ou produziremos códigos na mesma velocidade e eficiência que modelos de Inteligência Artificial. No entanto, a diferença entre um produto comum e uma obra de arte está nos detalhes. A criatividade, assim como a originalidade e coerência ética, ainda são competências eminentemente sociais.

Antes da IA tomar o mundo, outras tecnologias também estiveram em alta. Embora nem sempre tão badaladas como ferramentas de Inteligência Artificial Generativa, as disciplinas de computação em nuvem, aprendizado de máquina e internet das coisas (IoT) sempre estiveram presentes nas grandes transformações tecnológicas e empresariais dos últimos anos.

Um exemplo incontornável dessa união virtuosa de tecnologias é o PIX, aplicação que, sem exagero, revolucionou a forma de lidar com dinheiro. Porém, o sucesso da ferramenta não se deve apenas à estrutura robusta, aplicativos modernos e funcionamento flexível. A grande chave que conecta o mundo tecnológico a centenas de milhões de brasileiros é a dedicação e o talento de programadores. E não me refiro unicamente à equipe do Banco Central. O diferencial do sistema é ser uma das poucas tecnologias brasileiras nativas em open source, garantindo que outros milhares de pares de olhos encontrem soluções criativas para resolver problemas, diminuir riscos e aumentar o número de serviços personalizados.

Para além das inovações, a IA repaginou o mercado profissional, colocando em evidência as lacunas e as virtudes de uma força de trabalho cada vez mais global. Em outras palavras, o dilema contemporâneo não se resume a abraçar ou rejeitar a inteligência artificial; trata-se de uma discussão mais complexa: quais são as funções destinadas às máquinas e qual é o papel humano nessa nova configuração socioeconômica? Certamente, não faltarão especialistas, analistas e até certos gurus para nos orientar nessa longa jornada de evolução. Em tempo, a sabedoria clássica nos aconselha: a diferença entre remédio e veneno está na dose. A parcimônia nem sempre é apreciada, mas, às vezes, dar novos passos com uma dose de cautela também é bem-vindo, inclusive quando se trata das possibilidades de uso da Inteligência Artificial.

Gilson Magalhães, graduado em Processamento de Dados, com MBA em Business Administration pela Fundação Getulio Vargas, é presidente da Red Hat Brasil.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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