Quando observamos os mais recentes avanços e aplicações da inteligência artificial (IA), tendemos a concluir que a figura humana está prestes a ficar obsoleta em muitas profissões. Na área da educação, em especial, temos acompanhado como as cada vez mais numerosas ferramentas digitais estão simplificando tarefas e ampliando o potencial de aprendizado dos estudantes.
Uma das soluções em alta no debate público é o ChatGPT, um programa de IA que é aperfeiçoado por meio do feedback humano, ou seja, quanto mais os usuários utilizam a ferramenta, mais ela evolui. É o chamado deep learning. O ChatGPT tem surpreendido pela rapidez em resolver problemas e construir conteúdos a partir de perguntas elaboradas pelos usuários.
O que torna as pessoas humanas são as trocas, a convivência, os desafios comuns e cotidianos, seja em família, na vida profissional ou no ambiente educacional.
Tendo em vista a evolução inevitável das IAs, muitos profissionais da área educacional começam a avaliar os prós e os contras dessa tecnologia no processo de aprendizagem. Se um aluno consegue obter respostas cada vez mais coerentes e bem estruturadas para praticamente qualquer questão, por que ele ainda precisa do professor?
Bem, considerando que, inevitavelmente, ferramentas como o ChatGPT atingirão um patamar altamente refinado de emulação da criatividade humana, tornando praticamente impossível a distinção, por exemplo, da autoria de uma dissertação feita por um aluno universitário e por uma IA, mesmo assim há um limite para a tecnologia ainda fora do horizonte: a condição humana.
Isso mesmo. O que torna as pessoas humanas são as trocas, a convivência, os desafios comuns e cotidianos, seja em família, na vida profissional ou no ambiente educacional. Como um computador vai substituir o caloroso abraço dos pais, uma reunião de feedback no trabalho ou até mesmo o aprendizado de virtudes, ética ou o desenvolvimento de soft skills na escola ou na faculdade?
Não precisamos ir muito longe para avaliar os desafios ocasionados aos estudantes quando as relações humanas são inteiramente intermediadas pela tecnologia. Ao analisarmos as consequências que a pandemia impôs aos estudantes, obrigando-os ao isolamento social, destaca-se uma degradação significativa da saúde mental e dos laços de convivência dos alunos, impactando seriamente no seu desempenho acadêmico.
Não por acaso, os modelos de ensino presencial e a distância são colocados em debate com frequência, pois, mesmo com novas e melhores tecnologias, a convivência no “mundo real” entre alunos e professores faz muita diferença do ponto de vista do desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
É nesse ponto que precisamos entender que a tecnologia, em si, não é prejudicial aos professores ou a outros profissionais, mas o importante é desenvolver estratégias para incluir recursos avançados, como a IA, no processo de ensino.
Portanto, o professor continua sendo insubstituível para um efetivo processo de aprendizagem. Contudo, é indispensável o constante desenvolvimento de soft skills e o domínio das novas tecnologias para mediar com os estudantes a construção do conhecimento a partir da realidade dos próprios alunos e da interação deles com o objeto de pesquisa. E isso será uma vantagem pedagógica se o espaço de trabalho e de tempo transferido para a IA for ocupado de maneira criativa, inovadora e humana pelo professor.
Afinal, por que aprendemos o que aprendemos se não para tornar a nossa vida e a sociedade cada vez melhores? E esse pensamento, de empatia e amor ao próximo, é uma característica humana que se aprende no convívio entre nossos pares. Por isso, a escola, a faculdade ou qualquer outro espaço de aprendizagem sempre terá o professor como figura essencial.
Eros Pacheco Neto, pró-reitor de Administração e Planejamento da FAE Centro Universitário, gerente de Tecnologia da Informação e de Marketing, mestre em Educação e doutorando em Educação Científica e Tecnológica.
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