A Gazeta do Povo publicou, na edição de 7 de março último, uma importante e pertinente matéria intitulada Partidos políticos usam pouco a internet, para a qual gostaríamos de chamar a atenção dos políticos e, especialmente, do eleitor em busca de subsídios para fundamentar sua decisão de voto nas próximas eleições. Pois em tempos em que vigora um certo desencanto com a política, num contexto em que o noticiário político muitas vezes se assemelha às páginas policiais, as novas Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs) em geral, e a internet em particular, podem se transformar num importante instrumento auxiliar de fiscalização dos políticos e na formação da decisão de voto por parte do eleitor.

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No artigo citado, mencionam-se dados onde se verifica que apenas cerca de 30 a 40% dos políticos eleitos (especialmente deputados e vereadores) utilizam-se regularmente da internet para divulgar suas atividades. E, quando o fazem, procedem de maneira inadequada, muitas vezes subaproveitando as possibilidades geradas pela internet para uma comunicação mais eficiente, regular e transparente com o eleitor e com os cidadãos de uma maneira geral.

Infelizmente, tal não ocorre apenas com os políticos, individualmente considerados, mas também com as instituições políticas e alguns órgãos governamentais. Em comunicação que apresentamos no II Congresso da Associação Latinoamerica de Ciência Política, realizado na Cidade do México em fins de 2004, analisamos o conteúdo de 29 sítios dos órgãos legislativos brasileiros, englobando a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, além das Assembléias Legislativas de todos os estados e do Distrito Federal. Segundo os resultados da pesquisa, apenas quatro dos sítios avaliados receberam a classificação "alto grau de informatização", sendo 22 sítios parlamentares classificados nas categorias "baixo" e "médio baixo" graus de informatização, ou seja, com o desempenho do índice inferior a 50, numa escala de 0 a 100, o que indica um subaproveitamento da internet por parte destes órgãos parlamentares. A Assembléia Legislativa do Paraná, segundo a metodologia empregada na pesquisa, situou-se na categoria "baixo" grau de informatização, à frente de apenas três estados brasileiros.

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É claro que muito esforço de aperfeiçoamento foi feito de lá para cá, e tais esforços demonstram a existência de uma real preocupação de nossas elites dirigentes em, pelo menos, não ficarem defasadas em relação às empresas privadas no emprego das TICs. Entretanto, basta uma rápida navegada pelos sítios de alguns órgãos legislativos e dos políticos, para nos convencermos que muito esforço ainda pode ser feito para sua melhoria.

A que causas podemos atribuir esse uso deficiente da internet por parte dos candidatos a cargos públicos, dos políticos e das instituições políticas de uma maneira geral?

Creio que, mais do que razões de natureza econômica e/ou tecnológica, são motivos de ordem, digamos, cultural que inibem nossas elites dirigentes a disponibilizarem informações na web. Num país de cultura política autoritária e patriarcal como o nosso, ainda vigora um certo preconceito entre estas elites no sentido de investir em relações mais transparentes com a opinião pública e com o eleitor. Parece haver da parte dos homens públicos um sentimento análogo ao existente em certas tribos indígenas que julgam ter a alma roubada quando fotografados por elementos estranhos ao grupo.

A contrapartida desse receio ou preconceito em investir em relações mais transparentes com a opinião pública, é uma certa subestimação da capacidade e interesse do eleitor em buscar informações de maneira mais autônoma. Num país pobre e com tantos excluídos como o Brasil, dizem os avessos ao uso das TICs, a divulgação de informações pela internet é um luxo desnecessário, pois o cidadão e o eleitor não têm real interesse nem disponibilidade em utilizar tal ferramenta para buscar informações sobre os políticos e os grupos dirigentes.

Na realidade, estudos especializados demonstram que ambos os argumentos são falaciosos. A divulgação de informações pela Net só ameaça "roubar a alma" daqueles maus políticos, que temem o escrutínio e a vigilância do eleitor e da opinião pública. A construção de sítios bem organizados pelos candidatos a cargos públicos e instituições políticas, estimula o cidadão a buscar informações mais qualificadas, auxiliando-o no aumento de sua consciência cívica, e tornando-se um importante fator de inclusão digital e social.

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Portanto, é fora de dúvida que a internet é e tende a ser, cada vez mais, um instrumento eficiente para o aperfeiçoamento da comunicação entre Estado e Sociedade, bem como para o estreitamento das relações entre elites dirigentes e cidadãos. Isto posto, resta saber que tipo de informações disponibilizar na internet, para evitar que os sítios se transformem em projeções narcisísticas das personalidades dos políticos, ou em meios de divulgação de informações desnecessárias, sobrecarregado o cidadão e dificultando ainda mais, ao invés de estimular, o seu interesse pela política e pelos problemas da comunidade da qual faz parte. Mas isso é motivo para outro artigo.

Sérgio Braga é professor de Ciência Política do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde atualmente coordena o projeto de pesquisa Internet e política: mapeando os web sites políticos do Brasil e do Mundo.