Ilustração: Marcos Tavares/Thapcom| Foto:

A nossa política externa virou tema de debates acalorados, o que não deixa de ser positivo para chamar a atenção do grande público para a importância da estratégia de inserção internacional para o desenvolvimento, o bem-estar e a segurança dos brasileiros. O lado negativo desse debate, porém, é o risco de uma simplificação para ganhar pontos no debate político, impedindo uma análise isenta e objetiva dos resultados concretos. É perceptível a tendência à crítica automática por parte de quem se opõe ao que tem sido alcançado, enquanto os apoiadores tecem loas à política vigente sem apresentar as evidências. Já chegou o momento de nos debruçarmos de forma objetiva sobre o que tem sido realizado.

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E, de fato, nesses seis meses já é possível lançar um olhar retrospectivo que nos permite fazer um balanço dos avanços de nossa política exterior sob comando do chanceler Ernesto Araújo com base na evidência empírica. O pressuposto do exercício é muito claro: existe um mandato das urnas para dar novo rumo à política externa, privilegiando parcerias antes negligenciadas e utilizando-as para promover os valores e interesses nacionais. Como essa orientação geral e estratégica tem se traduzido na prática? Alguns exemplos podem ajudar a aferir os resultados alcançados: as relações com Estados Unidos, Israel e China; as negociações Mercosul-União Europeia; e os esforços pela democracia na nossa região, em especial no tocante à Venezuela.

Os Estados Unidos foram o primeiro destino bilateral de viagem internacional, resgatando um lugar de destaque a esse que é um parceiro fundamental, país que ocupa o primeiro lugar como comprador de nossas manufaturas e principal fonte de investimentos estrangeiros no Brasil. A convergência de visões de mundo entre os governos precipitou o avanço em tempo recorde de negociações em andamento e abriu novas avenidas de cooperação.

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Aos críticos de nossa política externa, faria bem sacudir os preconceitos ideológicos e enxergar a realidade dos fatos

Entre os exemplos concretos, destacam-se a assinatura do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, que permitirá o uso comercial do Centro de Lançamentos de Alcântara; o apoio decisivo dos EUA para o ingresso do Brasil na OCDE, espécie de clube de boas práticas que asseguram transparência e eficiência das políticas públicas; a designação do Brasil como aliado preferencial extra-Otan dos EUA, abrindo nossas possibilidades de cooperação, inclusive integração das bases industriais de defesa; e a construção de uma nova Parceria para a Prosperidade, que deve levar à negociação de acordos mais ambiciosos para remoção de barreiras ao comércio e aos investimentos.

Com Israel não foi diferente. Por muito tempo, o Brasil deu as costas a um parceiro fundamental, conhecido como “Start-up Nation”, por seus avanços extraordinários em matéria de ciência, tecnologia e inovação. Não resta dúvida de que, se queremos um país competitivo e conectado às cadeias de valor mais dinâmicas no mundo, é preciso forjar parcerias com quem entende de inovação. Essa conexão com Israel, portanto, tem base em nossos valores judaico-cristãos, que não devem ser desprezados como motor na aproximação bilateral, mas tem também uma dimensão de desenvolvimento econômico e prosperidade que está sendo explorada ao máximo, em benefício da sociedade brasileira.

Os críticos costumam mencionar a aproximação com Israel como um elemento negativo, já que alienaria os parceiros árabes e muçulmanos, importantes compradores de proteína animal. Há aí uma grande dose de simplificação interessada ou franca distorção. Não se fez nada em detrimento das relações com países árabes, que continuam aumentando suas compras do Brasil porque sabem que o nosso país é um fornecedor confiável de alimentos de alta qualidade, respeitando os ritos islâmicos na sua preparação. Não se substitui um fornecedor como o Brasil sem gerar insegurança alimentar. Da perspectiva política, graças aos esforços do Itamaraty, foi possível dissipar inquietações fundadas em leitura equivocada, já que melhorar as relações com Israel apenas ajuda a termos uma política externa mais equilibrada, capaz de contribuir para a paz e a prosperidade no Oriente Médio.

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É também motivo de distorções o relacionamento com a China. Nossa política externa nunca questionou a importância daquele país como parceiro do Brasil nem buscou criar animosidades de qualquer natureza. O que mudou não foi o entusiasmo em manter as melhores relações possíveis com a China, mas o fim da passividade ao se procurar, de maneira ativa, buscar benefícios dessa relação que ajudem no desenvolvimento de longo prazo do Brasil. Queremos investimentos, mas os chineses devem responder não apenas a seus interesses comerciais no escoamento de commodities, mas ajudar a melhorar a infraestrutura que alavanque o desenvolvimento de outros setores. Queremos seguir vendendo minério de ferro e soja, mas é fundamental que os chineses abram o mercado para frango e açúcar, bem como ampliem a compra de produtos de maior valor agregado.

No campo das negociações comerciais, estamos começando a romper o isolamento do Brasil e do Mercosul, bloco que não tem nenhum acordo de livre comércio com nenhum parceiro de peso. Graças a uma postura favorável à abertura comercial, entendida como uma das chaves para o aumento da competitividade da nossa economia, as negociações com a UE estão praticamente fechadas, restando apenas um endosso político dos países. Essa negociação é apenas o primeiro passo para fechar outras já em andamento com o EFTA, Canadá, Coreia do Sul e Cingapura. Esta gestão do Itamaraty legará uma integração do Brasil a mercados de grande dinamismo. Venderemos mais e compraremos insumos a preços competitivos, o que tende a estimular o desenvolvimento industrial e agrícola do país.

Aos críticos de nossa política externa, faria bem sacudir os preconceitos ideológicos e enxergar a realidade dos fatos, que demonstra de maneira cabal avanços concretos na esfera internacional para o país. Uma guinada diplomática profunda, que deixará marcas extremamente positivas para o futuro do Brasil.

Márcio Coimbra é diretor-executivo do Instituto Legislativo Brasileiro no Senado Federal.

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