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| Foto: Gali Tibbon/AFP

Dias atrás, os países-membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) ratificaram a moção proposta por países árabes, sob a alegação de que o Monte do Templo, em Jerusalém (que inclui o local sagrado islâmico Al-Aqsa), deve ser considerado exclusivamente muçulmano. Tal votação, particularmente, foi diferente das costumeiras condenações a Israel, porque não se refere a ações israelenses. Em vez disso, na essência, é muito pior, já que nega tanto ao judaísmo como ao cristianismo quaisquer reivindicações legítimas sobre o lugar. A resolução foi tão extrema que a própria diretora-geral do organismo, Irina Bokova, criticou e condenou a atitude. Ela afirma que o local é sagrado para as três religiões.

A resolução não tem qualquer consequência prática, é claro. Mas, então, qual seria o seu objetivo? É simples: do ponto de vista estratégico árabe, seria focar de volta a questão palestina visando Israel. A região tem sido palco de combates e bombardeios na Síria e no Iraque; some-se a isso a intervenção russa, a tentativa de golpe na Turquia, os problemas financeiros na Arábia Saudita, a guerra civil do Iêmen e, ainda, os ataques eternos para libertar Mosul do Estado Islâmico.

Extrair o judaísmo e também o cristianismo de Jerusalém equivale a reescrever a história por decreto

Com toda esta lista de problemas, Israel não tem sido mais um foco no Oriente Médio. Até mesmo os Estados árabes têm muito mais com que se preocupar do que com Israel, que em função disso tudo se tornou uma questão secundária – mas isso é provavelmente apenas temporário, como demonstra a resolução aprovada pela Unesco.

Assim, a moção aprovada pela Unesco no dia 13 e ratificada no dia 18 de outubro, segundo a qual o Muro das Lamentações e o Monte do Templo são sagrados “apenas para os muçulmanos”, consiste em uma das maiores e mais míopes distorções da história, que rejeita não apenas a legitimidade do Estado de Israel, mas que também, simplesmente, descaracteriza o judaísmo e o cristianismo como formadores da civilização ocidental.

Pouco importa se Jerusalém foi fundada por volta do quarto milênio antes da era comum por Shem e Eber, antepassados de Abraão, ou pelos hicsos após sua expulsão do Egito, em 1835 a.C.; o fato é que a cultura judaica está a ela intrinsecamente relacionada. O polêmico rei Davi, sucedido por seu filho Salomão, fez da cidade a capital do Reino Unido de Israel e Judá. Ela abrigou o denominado Primeiro Templo, local onde, de acordo com a tradição, repousava a Arca da Aliança, ícone da fé judaica. O Primeiro Templo foi destruído em 538 a.C., quando os babilônios devastaram a então Judá, dando início à primeira diáspora judaica. Após 50 anos de exílio, puderam os judeus retornar e reconstruir o Templo, tendo este permanecido como palco de inúmeras disputas, entre as quais a dos macabeus, que restabeleceram a capital judaica por volta de 150 a.C.

Nesse cenário efervescente, já sob o domínio romano, surgem várias facções judaicas, inclusive a liderada por João Batista e, mais tarde, por Jesus. Os judeus têm seu Templo novamente destruído e se tornam apátridas em 70 d.C. No contexto histórico e não dogmático, a seção cristã liderada por Pedro permaneceu estritamente judaica até 400 anos após o fator Jesus, quando se oficializa o cisma, através da “romanização” do judaísmo cristão ou do cristianismo judaico, como queiram.

Ora, extrair o judaísmo e também o cristianismo de Jerusalém equivale a reescrever a história por decreto conforme conveniência ou lobby. Trata-se de uma atitude rasa, inconsequente, nefasta e, como embasada na inverdade, insustentável.

Leon Knopfholz é empresário, escritor, musicista e ex-presidente da Loja Chaim Weizmann da B’nai B’rith do Paraná. Szyja Lorber é jornalista, professor de Geografia e História e especialista em conflitos do Oriente Médio.
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