O Evangelho de hoje nos narra o nascimento de Jesus e nos informa que aconteceu de forma extraordinária. No povo de Israel o casamento acontecia em duas etapas. A primeira consistia num contrato assinado pelos dois esposos, pelos pais e duas testemunhas. Após esta assinatura o rapaz e a moça eram marido e mulher, mas ainda não iam morar juntos. Em geral decorria um ano durante o qual eles não podiam se encontrar. Este intervalo servia para que as duas famílias pudessem conhecer-se melhor e para que os esposos adquirissem um pouco de maturidade, visto que, naquele tempo, casavam-se bem jovens ainda (12-13 anos para a moça; 15-16 para o rapaz... e esta devia ser a idade de Maria e José).
Decorrido um ano de espera, dava-se uma grande festa, a esposa era conduzida à casa do marido e os dois começavam a vinda juntos. Durante este período aconteceu à anunciação a Maria e sua gravidez por obra do Espírito Santo. O que aconteceu depois não foi fácil estabelecer e levanta muitas perguntas: com José podia suspeitar que Maria lhe faltará com a fidelidade? Por que queria mandá-la embora? Em que sentido ele era "justo"? Talvez porque quisesse afastar-se de Maria? Mas se não havia lei nenhuma que obrigasse a divorciar-se da mulher infiel. Por que Maria não contou nada a José sobre o que havia acontecido? Ou então, se contou, por que José não acreditou? Diante dessas perguntas, alguém explica assim: Maria deve ter contado ao esposo que o filho que esperava vinha de Deus; não tinha motivo algum para manter segredo sobre um fato que ele tinha direito de conhecer.
A dúvida de José, neste caso, não seria sobre a fidelidade ou infidelidade da esposa, mas sobre sua participação neste acontecimento extraordinário. Como poderia dar o seu nome a um filho que não era dele? Não seria essa uma intromissão indevida no projeto de Deus? Não sabendo como se comportar, pensou em afastar-se e guardar os acontecimentos. Enquanto ele estava meditando essas coisas, o Senhor lhe revelou o seu plano: ele devia dar o nome a Jesus, para que assim o filho de Maria pudesse pertencer à família de Davi.
É melhor não tentar encontrar respostas a perguntas que nós fazemos, mas que não tinham interesse para o evangelista Mateus. Ele não estava interessado em dar-nos informações ou satisfazer nossa curiosidade. O único objetivo que lhe interessava era que entendêssemos que o filho de Maria era o herdeiro do trono de Davi, prometido pelos profetas.
O profeta Isaías foi um bom homem, foi também um "Emanuel", isto é, um sinal de que Deus estava com o povo de Israel e com a dinastia de Davi... E nada mais; não tinha com certeza, realizado em plenitude as promessas de Isaías. Eis, então, o que nos quer transmitir: Jesus é o Filho da virgem anunciado pelo profeta (Cf. Is 7, 14). Ele é realmente o "Emanuel", o "Deus conosco", e lhe será dado um reino eterno e nele se cumprirão todas as esperanças de Israel.
O Evangelho nos diz com clareza que a sua concepção aconteceu por obra do Espírito Santo, concepção esta que a Igreja interpreta no sentido que Jesus não teve um pai humano. Mas além deste sentido, a virgindade de Maria contém para nós uma mensagem religiosa importante que resulta do sentido bíblico da virgindade. Maria Virgem é a prova da grandeza e força do amor de Deus, o único com o poder de fazer brotar a vida de um útero estéril.