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Eu já estava no Diário do Paraná, início dos anos 60, a enorme escola de jornalismo dos Diários Associados, quando Jorge Narozniak entrou no jornal. O ucraniano chegado criança ao Brasil, graduado em Jornalismo pela antiga Universidade Católica, impôs-se e passou a ser respeitado, sem dificuldades, naquela redação, viveiro de jornalistas identificados com a sociedade paranaense abrangente.

O fato de ser um adventício naquela sociedade do velho Paraná não foi empecilho a que Narozniak se impusesse como pauteiro insuperável. Em pouco tempo, exercendo formalmente ou não a chave da reportagem, ele nos indicava as muitas faces da história de um Paraná não oficial, escondida em biografias de anônimos, em acidentes geográficos não registrados, na flora e fauna quase ignorados, em heróis do cotidiano urbano ou rural silenciosos e imensos em suas ações cívicas e sociais.

Um dos temas seus preferidos era a Guerra do Contestado, de 1912, mas acabou reconhecido, entre outros méritos, como um dos primeiros arautos da causa ambiental. Quem duvidar, que consulte a coleção do Diário do Paraná, onde ele deixou as marcas de uma visão jornalística comprometida com a ecologia. Um bom exemplo desse engajamento foi Guaraqueçaba, com suas riquezas humanas e ecológicas então adormecidas, um espaço quase como o primeiro dia da criação. Pois Jorge "descobriu" Guaraqueçaba modernamente, colocando-a nas páginas do Diário e envolvendo nessa missão catequética dois de seus aliados: Paulo Roberto Marins de Souza e Paulo Lepca.

Mais que companheiros de redação, Marins e Lepca fizeram-se cúmplices de Narozniak em revolver um Paraná fertilíssimo em riquezas ambientais e humanas. Marins, sob influência de Narozniak, acabou produzindo um dos melhores momentos da imprensa do Paraná, com a série de reportagens Em Busca do Tempo Perdido, que tinha fotografias de Waldir Silva e lhe rendeu o Prêmio Esso de Reportagem.

Jorge nasceu repórter, com uma capacidade de computar informação e interligar fatos e referências como jamais encontrei em outra pessoa. Fez algumas incursões no mundo da poesia. Mas o repórter prevaleceu nele; seu negócio era mesmo descobrir a notícia em fatos, locais e pessoas que não sensibilizavam os simples mortais do jornalismo. Se caía um avião na Serra do Mar, como aquele Dart Herald, da Sadia, em 1967, matando dezenas de passageiros, lá estava o Narozniak, na primeira hora. Não só captando a comoção do estado, mas examinando as minúcias da cena do desastre na Serra do Carvalho, ao lado do capitão Nascimento, dos Bombeiros, outra alma de repórter.

Era quase impossível fazer boa reportagem sem antes ouvir o Narozniak. Quando fui a Pato Branco ouvir os líderes do movimento secessionista pró-estado do Iguaçu, parti com todos os elementos sobre o assunto mastigados pelo melhor departamento de pesquisa que um jornal podia ter: Jorge Narozniak.

Depois, passou muitos anos na TV Paranaense, senhor absoluto da pauta, gerando e dando suporte a reportagens locais, estaduais, nacionais. Centenas delas abasteceram o Globo Repórter, quando tratava de meio ambiente. "Jorge, na verdade, era muito mais que isso, era uma espécie de consultor, com respostas precisas, quase automáticas, sobre cada centímetro da realidade paranaense. Quem pode substituí-lo?", pergunta Celso Nascimento, que foi colega de Narozniak no Canal 12. Mais recentemente, Aírton Cordeiro e eu entrevistamos o ex-prefeito Saul Raiz na ÓTV. Narozniak não apareceu no vídeo, mas esteve presente o tempo todo pelas observações essenciais sobre os tempos de Raiz, feitas na antessala do estúdio.

Não vejo como repor esse repórter, especialmente numa época em que o jornalismo profissional, essencial e insubstituível, atravessa uma sarça ardente.

Aroldo Murá G. Haygert, jornalista, é presidente do Instituto Ciência e Fé e autor da coleção Vozes do Paraná.

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