Ouça este conteúdo
"Lacaio por definição é alguém sem caráter." (Marco Antonio Villa, historiador)
O jornalismo de viés ideológico preocupa-se em convencer que uma específica interpretação de certo evento ou fato é a única plausível e coerente, deturpa a realidade para que esta sirva a conclusões pré-estabelecidas, adorna a linguagem com demasiados adjetivos e neologismos, emprega termos de semântica demasiadamente ampla e é marcado, também, pelo reducionismo e simplismo de suas análises. O binarismo marxista "opressores x oprimidos" é, frequentemente, o pilar de sustentação de escritas e retóricas que atacam determinados grupos e instituições enquanto enaltecem outros.
O jornalismo erra por buscar legitimar a ação política, social e ideológica de seus pares, reduzindo-se a máquina de propaganda, algo que deixaria orgulhoso Paul Joseph Goebbels, ministro de Propaganda da Alemanha nazista. No artigo Saudades do jornalismo, o filósofo e professor Olavo de Carvalho aponta que "hoje em dia temos puros polemistas, que não investigam nada, não explicam nada, não fazem nenhum esforço intelectual, não tentam entender coisa nenhuma, só tomam posição, lavram sentenças como juízes e ditam regras. (...) Nas faculdades estuda-se, por incrível que pareça, a decadência do jornalismo brasileiro. Mas lança-se a culpa em tudo, menos nos jornalistas. Como se a má pintura não fosse nunca obra de maus pintores, ou a comida sempre fosse ruim a despeito dos excelentes cozinheiros. A classe tem um tremendo esprit de corps quando lhe interessa, mas nunca faz um julgamento sério de seus próprios atos, uma avaliação realista do seu impacto na sociedade. Narra sua história como se fosse autora de tudo o que é bom, vítima inerme de tudo o que é mau. Nada, absolutamente nada, lhe dói na consciência" (grifo meu).
O jornalismo que nada contra a corrente é perseguido, e é o que faz dele tão importante
O filósofo Luiz Felipe Pondé comparte a seguinte observação: "O alinhamento de grandes veículos com ideologias e a formação de muitos jornalistas na faculdade, alinhados à ideologias, também descredita os veículos e suas redações. Isso faz com que o que se considera verdade pareça um ponto de vista ideológico (...) (grifo meu). E Rodrigo Gurgel, ensaísta e crítico literário, na introdução do livro de Flavio Gordon A Corrupção da Inteligência, pontua: "No que se refere ao jornalismo, Gordon repete análise perfeita, salientando como sua linguagem tornou-se 'enviesada e hesitante; nada pode ser dito sem medo de ofender ou violar alguma norma do moralismo progressista, com toda a sua seletividade e duplo padrão de julgamento'" (grifo meu).
O jornalismo brasileiro erra na forma, com textos repletos de erros à norma culta e ausência de um vocabulário acurado e preciso em suas definições e análises; e no conteúdo, com análise pobre, superficial e tendenciosa recaindo no óbvio, raras são as exceções. Aqui cabe o que escrevi no artigo Jornalismo brasileiro em (des)construção, publicado pelo Instituto Burke: "A mídia superexpõe certos temas baixo as mesmas interpretações e conclusões, o que transmite a impressão de que há um quase consenso e que, se existe divergência, ela parte da ignorância e fanatismo de certos grupos. Armar a população criará um caos urbano, um faroeste no Brasil, o Brasil é o país que mais mata homossexuais, mulher ganha menos que homem nesta nação e a lista segue... Claro que afirmar que tudo faz parte de um grande complô seria cair em teoria da conspiração; a ignorância e mediocridade intelectual também são um fator, mas o fato é que grande parte da imprensa acredita realmente no que apregoa mesmo quando não há nada sólido que sustente tais crenças. Pensar fora da caixa e avaliar a lógica de seus argumentos através de pesquisa bibliográfica séria seria tirar a frágil peça que sustenta um castelo de cartas e, entre a realidade complexa e um visão ideológica simplista, superficial, reducionista e confortante, os influenciadores da grande mídia ficam sempre com a segunda opção. Observamos análises cheias de adjetivos, pobres em referências bibliográficas, sem dados da realidade, que soam a cada dia menos plausíveis ao público, e que nada mais são que pura boçalidade. Ousar é difícil; ser a voz do contraditório, algo penoso e pouco lucrativo. Os brilhantes analistas do jornalismo brasileiro, não todos, buscam a fama, o prestígio e a segurança financeira, elementos incompatíveis e dificilmente obtidos por quem deseja lutar contra o establishment". (grifos meus)
Como esperar que a verdade sólida, fruto da descrição honesta de fatos e de uma interpretação coerente e bem respaldada, como também da pluralidade de ideias, surja em meio a um pântano podre? Por isso o jornalismo que nada contra a corrente é tão perseguido, e é o que faz dele tão importante. O jornalismo ético, inteligente e sólido é (e que siga sendo) uma ilha de honestidade, credibilidade e de união primorosa entre forma e conteúdo. Sempre que leio e me deparo com excelentes fontes, percebo que ainda há esperança para o jornalismo brasileiro; ainda existem nomes relevantes e boas promessas. Como disse certa feita Caio Copolla, “é melhor um latifúndio de fala que um deserto de ideias”.
Carlos Alberto Chaves Pessoa Júnior é formado em Letras, professor de inglês e espanhol e consultor bilíngue.