Se cada vez mais somos uma aldeia global, decorrência da internet e das mídias digitais, nela é imprescindível a competência específica e a credibilidade do jornalismo de qualidade

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A divulgação pelo site WikiLeaks de milhares de documentos e mensagens secretas da diplomacia norte-americana foi um dos grandes fatos políticos e jornalísticos dos últimos tempos. As entranhas do jogo de poder internacional ficaram expostas de uma forma nunca vista. À parte a importância maior ou menor das informações desvendadas, um fato se impôs no episódio: de posse da incrível quantidade de dados vazados, os responsáveis pelo site cuidaram de se aliar a um grupo de renomados jornais para torná-los públicas. Coube ao jornalismo profissional e independente a tarefa primeira de editar, contextualizar e divulgar o material.

O jornalismo de credibilidade, municiado por um dos mais emblemáticos veículos da internet, deu uma demonstração impressionante da sua força e alcance. Se cada vez mais somos uma aldeia global, decorrência da internet e das mídias digitais, nela é imprescindível a competência específica e a credibilidade do jornalismo de qualidade. Aliás, levantamentos de institutos renomados já mostraram que a maioria das notícias importantes veiculadas livremente pela internet são originadas nas redações da mídia tradicional – jornais em especial.

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Para citar só três exemplos da importância das investigações feitas a partir dos pesados investimentos das empresas jornalísticas brasileiras: as matérias sobre o Mensalão em 2005 (e as dos demais "mensalões" posteriores) tornaram públicos fatos que mudariam a vida do país. Sem tais investigações, as eleições de 2010 provavelmente teriam outros candidatos e outros resultados. No assunto educação, a imprensa denunciou um esquema de vazamento de provas do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. A notícia levou o Ministério da Educação a cancelar a realização da prova para garantir a lisura do processo. Esportes? Também exigem uma imprensa atenta. Porque futebol, por exemplo, deveria ser uma caixinha de surpresas – mas nem sempre é. Uma investigação sobre o Campeonato Brasileiro em 2005 levou o futebol das páginas de esportes para as policiais, porque cobertura jornalística apontou esquema de árbitros que manipulavam resultados para beneficiar apostadores em jogos de loterias clandestinas (a "Máfia do Apito").

Sem tais investigações e matérias feitas pela imprensa, ninguém ficaria sabendo de nada. Esses são exemplos da importância do trabalho cotidiano das equipes de jornalistas que, seguindo padrões profissionais e transparentes exigidos pelas empresas jornalísticas, prestam um serviço inestimável às sociedades democráticas. Por isso os cidadãos se dispõem a pagar pelas assinaturas dos jornais e as empresas efetuam investimentos publicitários nos veículos de comunicação.

Para as empresas jornalísticas, contudo, a maravilhosa modernidade da internet e das mídias digitais trouxe um desafio ainda não totalmente resolvido: como construir um modelo de negócio que se sustente e mantenha o jornalismo responsável e de credibilidade?

Esse bom jornalismo, que tantos serviços vem prestando ao longo da histórica, decorre de investimentos em profissionais altamente competentes, coberturas dispendiosas, empresas eficientes, equipamentos e muito mais. No entanto, vivemos hoje uma realidade em que alguns parecem presumir que a informações jornalísticas são um bem gratuito, que está disponível na grande rede mundial para quem delas quiser se apropriar e consumir.

Na Associação Nacional de Jornais, temos travado um intenso debate sobre esse desafio e buscado caminhos para vencê-lo. Reunimos mais de 145 jornais de todo o país, responsáveis por cerca de 90% da circulação diária. É com toda essa força e representatividade que temos, por exemplo, buscado negociações com os grandes agregadores de informações da internet, com o objetivo de melhorar nossa visibilidade e audiência e, mais importante, buscar modelos de negócios que preservem as fontes independentes de informação e investigação jornalística – um dos mais relevantes elementos dentre os pesos e contrapesos que sustentam as democracias.

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Temos também chamado a atenção das autoridades e da sociedade brasileira para a importância da preservação dos direitos autorais, num momento em que tantos querem relativizá-los.

Sem remuneração adequada, o bom jornalismo será cada vez mais raro. Preservar o jornalismo profissionalizado e independente é importante para o dia a dia de todos, para a formação da consciência crítica dos cidadãos e fundamental para a democracia. Porque informação com credibilidade custa muito para quem faz. Mas, por seu papel social, custa muito pouco para quem lê.

Judith Brito é presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ).