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Juízes, a nova ordem do Brasil: o caminho sem volta

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"Não existe mais aquela cansativa relação entre os velhos três poderes constitucionais e isso precisa ser entendido – é o que os juízes governantes estão nos dizendo agora". (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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O país entrou num caminho incomparável com qualquer outro de sua história. Quando o Poder Judiciário declarou internacionalmente que é ele quem controla o governo e o Congresso brasileiros, e estes não dizem nem fazem nada a respeito, isto significa uma inédita tomada de poder à força da repressão atual ou futura das “decisões judiciais” políticas arbitrárias sobre pessoas ou questões de interesse daqueles poderes subjugados. Poder tomado assim nunca será devolvido, exceto pela força, porque fora dela não há a quem recorrer. É um caminho sem volta.

Os juízes apenas disseram ao mundo o que já vinham dizendo nas suas decisões judiciais políticas – ou decisões políticas judiciárias, nas jurisprudências legislativas, nas libertações e nas prisões políticas, nas condenações e nas absolvições políticas, nas suas opiniões políticas manifestadas em entrevistas e participações em programas da imprensa, em redes sociais ou em lives com artistas, jornalistas e políticos, na liderança da organização de blocos políticos para votações no Congresso e em tudo o mais a que, estupefatos, assistimos ao longo dos últimos anos.

A velha barragem do poder foi furada pela força das águas eleitorais e, agora, os donos da barragem vão controlar ou tapar cada um dos furos. Decisões políticas consideradas estratégicas para a segurança da barragem serão tratadas como questões jurídicas irrecorríveis que irão permitir ou não permitir a vazão controlada de cada orifício.

Tudo será rapidamente, lentamente ou não será, porque sempre será tratado politicamente como atos de gestão e monitoramento da barragem – como vem sendo feito. A Constituição e as leis são meras referências para interpretação política das decisões tomadas juridicamente pelos juízes governantes, como temos visto nas mais variadas questões submetidas a eles, ou nas quais agiram sem que ninguém houvesse pedido, ou ainda contra a vontade do titular da ação, o Ministério Público.

Não existe mais aquela cansativa relação entre os velhos três poderes constitucionais e isto precisa ser entendido – é o que os juízes governantes estão nos dizendo agora. Ela está definitivamente esgarçada e em desuso. Há um novo poder real, um novo caminho, novos protocolos e liturgias que estão acima da Constituição. A cúpula dos juízes governantes é agora, de fato, a chefe de todo o estamento burocrático, e isso está por ele entendido e já permeia silenciosamente por todo o Estado profundo. O novo poder real dos juízes governantes já foi harmoniosamente incrustado nas diversas camadas dos subpoderes da máquina estatal – e há muitos subpoderes constitucionais – e nos demais acessórios constitucionais, tais como a alegre OAB.

O Ministério Público, por exemplo, um poder constitucionalmente autônomo e independente, já não o é mais, diante do poder dos juízes governantes. A Polícia Federal, que era, na prática, um poder autônomo dentro do Estado, agora precisa se submeter a eles. O Legislativo já antes submisso é comandado por aqueles que sempre voltarão eleitos pela urna eletrônica deles, os juízes. O Executivo, que tem o comando forte da grande maioria organizada dos funcionários política ou legalmente estáveis, já entendeu que tem sobre ele o poder das decisões judiciais irrecorríveis dos juízes sobre qualquer assunto ou pessoa. Todos estes, mais STJ, CNJ, TSE, TCU, TST e demais tribunais inferiores, estão sob o comando único desta junta governativa de juízes, o tribunal político cujo 11.º membro só é quem eles admitiram depois de quatro meses.

É um novo tempo imponderável para esta geração. No início do século passado as revoluções tecnológicas, sociais, ideológicas ou de costumes ocorriam a cada 50 anos. Depois, a cada 20 anos, 10 anos, e nos anos 90 a cada dois anos, segundo Bill Gates – pelo menos as tecnológicas, aquelas que o fazem abandonar a máquina de escrever e usar o computador. E hoje elas acontecem em tempo real, todas simultâneas e a todo tempo, sem que tenhamos muita consciência de sua profundidade e repercussão porque ocorrem na internet, nas redes sociais que nos alavancaram para novas realidades comandadas pelas Big Techs.

Assim como elas – Google, Facebook e Twitter, os três grandes “estados” globais detentores dos próprios tribunais privados – conhecem e sabem o que pensa cada um dos usuários de seus aplicativos, os nossos juízes governantes já conhecem o suficiente do que pensa cada eleitor brasileiro. A big data eleitoral (a base organizada dos dados eleitorais passados) e a inteligência artificial já permitem ao governo dos juízes saber a respeito dos usuários da urna eletrônica mais ou menos como as Big Techs sabem a respeito dos usuários de seus aplicativos. Sabem, inclusive, que a velha democracia, como era conhecida, está caindo em desuso no Brasil e no mundo. Por isso eles deixaram muito claro que não se fala mais nisso – voto impresso ou urna auditável. Os tribunais das Big Techs são parecidos com o tribunal político dos juízes governantes.

A chegada da tecnologia 5G, no próximo ano, trará uma revolução muito maior e muito mais rápida do que fez a internet quando chegou. Com inteligência artificial, internet das coisas e outras ferramentas ainda inimagináveis pela maioria, nada será nem parecido como antes – inclusive a democracia e o que conhecemos como padrões de Estado Constitucional.

Tal como as Big Techs sabem o valor de sua big data – os dados e o perfil de seus usuários são o seu maior patrimônio, os nossos juízes governantes também descobriram isso –, o valor dos dados e do perfil dos eleitores brasileiros é a atual e verdadeira base deste poder que passaram a exercer. Todos lembram que há muito pouco tempo estes mesmos juízes apoiavam “ingenuamente” o voto eletrônico impresso conforme aprovado no Congresso. E lembram também que, no momento seguinte, eles perceberam que, se permitissem a impressão do voto, estariam “jogando fora” o seu poder – já que o banco de dados eletrônicos e suas estratégicas informações poderiam sofrer double check.

Rapidamente, então, deram aquele salto mortal triplo carpado: cancelaram os deputados, a comissão parlamentar e o projeto do voto impresso. E ainda calaram todas as vozes da razão e da ciência – engenheiros de software, especialistas, inclusive o engenheiro tido como “pai” da urna eletrônica. Finalmente hoje podemos entender melhor o porquê daquele comportamento dos nossos juízes governantes. Entenderam que não precisam nem de pesquisa eleitoral, exceto para efeito estético e para garantir alguma lógica nos resultados.

De algum modo, esta tomada de poder está ocorrendo em todo o mundo. A onda tecnológica e a onda ideológica estão, juntas, varrendo lentamente cada país ou região, tudo harmonizado com as grandes fortunas, com a imprensa e o alvo claro – o globalismo em lugar de soberania nacional, da democracia e das liberdades como conhecemos. A Europa entrou num túnel ideológico irreversível de governança globalista, naturalmente à esquerda, em que frequentemente os burocratas do Parlamento Europeu têm mais poderes que os presidentes dos países-membros da UE. A velha democracia, a velha liberdade e os velhos costumes já são meros arquivos – a tirania na pandemia nos mostrou isso em todos os lugares. No Brasil se deu pelas mãos dos juízes governantes.

O Parlamento Europeu, uma Babilônia de 24 idiomas, produz leis e regulações que julgam adequadas a Portugal e também à longínqua Finlândia, por exemplo, porque o princípio é o de um socialismo globalista. Costumam decidir o que pode e o que não pode entrar em cada país – mercadorias, pessoas, veículos, drogas. Eles decidiram até quais são o tamanho e a curvatura máxima das bananas e dos pepinos que podem ser importados pelos países-membros. Ou seja, a Europa tem também o seu próprio tribunal político e os governos locais são cada vez mais frágeis.

Compraram uma imensa frota de caminhões com a qual “transportam a sede” do Parlamento, que fica em Bruxelas, por toda a Europa, para que cada país-membro receba a sessão daquela trapizonga dos deputados babilônicos. A velha imprensa noticia tudo com o viés correspondente à política da UE, perfeitamente harmonizada com aquele globalismo. Não foi por menos, mas por muito mais que isso, que os britânicos aprovaram sua custosa saída da UE – o Brexit. Na Europa também já se instalou uma nova ordem.

Ela, aliás, funcionava mais ou menos assim na França desde o evento liberté, égalité, fraternité. O Estado francês é sócio ou comanda as grandes empresas francesas. A Escola Nacional de Administração (ENA, estatal) forma seus “escolhidos”, filhos e netos de escolhidos antes, e dali saem os dirigentes. Quanto à Justiça francesa, que o leitor não ajuíze uma ação na França. Também não estamos sós nisso.

A China, onde não há democracia nem divisão entre poderes, e o Poder Judiciário é o Tribunal Político do Partido Comunista Chinês, o partido único, está ampliando seus domínios não apenas no Mar da China, mas também em países da América do Sul, da América do Norte, da África e praticamente todos os que por alguma razão estão fragilizados – como o Afeganistão. Na China a imprensa não é apenas harmonizada com o governante, mas é uma ferramenta do processo de dominação mundial estabelecido pelo PCC. Faz 15 anos que a China iniciou o plano de chegar a 2025 com 350 milhões de chineses doutores em todas as áreas do conhecimento – uma população norte-americana inteira de jovens chineses foi enviada para estudar áreas específicas na Europa, no Reino Unido, nos Estados Unidos e no Canadá, dentre outros países. A imprensa chinesa é estatal, dominada pelo PCC e vem fazendo convênios, parcerias ou outras modalidades de alinhamento com a imprensa dos países onde a China tem presença importante – como o Brasil e a Argentina, por exemplo. Ou então ela compra a imprensa daquele país. De novo, o Brasil não está só neste caminho.

A Rússia está a caminho de reconstruir uma espécie de nova União Soviética, e lá o nosso novo caminho já é um caminho antigo. A democracia, ou o que signifique o mecanismo eleitoral deles, é absolutamente dominada pelas forças oligárquicas bilionárias, organizadas e violentas, que se formaram no desmonte do poder centralizado na antiga URSS – gás e óleo, principalmente, são dominados pelos que se apropriaram destas riquezas. A imprensa na Rússia é estatal ou é uma mera extensão do Estado. E os demais poderes são apêndices do poder central. Então, como vemos ainda uma vez, o Brasil não está só.

Não existe mais aquela relação entre os velhos três poderes constitucionais e isso precisa ser entendido - é o que os juízes governantes estão nos dizendo agora.

Os Estados Unidos seriam o último bastião da resistência, so far. Porém, a China é dona de praticamente toda a dívida pública americana e, por causa desta bobeada majoritariamente de governos democratas, milhões de chineses “invadiram” o país e já permeiam toda a economia americana. Fizeram espionagens de toda espécie e se embrenharam nas entranhas da nação. Não há muito a fazer, principalmente com este frágil governo Biden. A pandemia facilitou muito o curso da China em direção à dominação mundial. Estamos juntos nisso também.

Esta conspiração global de tomada de poder por Big Techs, a chegada triunfal da China por todos os lados, as novas tecnologias e a big data como base do poder em lugar da democracia, da soberania e das liberdades, apontam claramente para o Great Reset anunciado pelo Fórum Econômico Mundial – em outras palavras, o globalismo preconizado por muitos. No Brasil, agora está tudo pronto: foi dado o nosso reset local pelos juízes governantes, restando apenas remover o corpo estranho que furou a represa e tapá-la com novos materiais e nova tecnologia.

Juarez Dietrich é advogado, Master of Laws (LL.M), pós-graduado em Processo Civil, ex-membro do banco de conselheiros do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e do European Corporate Governance Institute, ex-diretor financeiro da OAB Paraná e especialista do Instituto Millenium.

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