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Para um procurador do Ministério Público, a formidável operação policial desfechada ontem foi uma forma apropriada de comemorar os 125 da proclamação da República.

Para um alto funcionário da Polícia Federal, a envergadura da ação produzirá um estrago tão grande quanto o dia do Juízo Final. Avaliações corretas: os guardiães da Res Publica, a Coisa Pública, além da excelência profissional, demonstram uma sofisticação intelectual à altura. Longe, felizmente, das encenações do tipo Satiagraha.

À revelia dos candidatos que há três semanas se digladiavam com estatísticas, a nova fase da Operação Lava Jato tem todas as condições para converter-se em marco das grandes mudanças prometidas ao longo da campanha eleitoral. Deverá impor-se até mesmo à composição do novo ministério e comando do parlamento, pautar a própria agenda de reformas e esvaziar a prematura excitação em torno das disputas de 2016 e 2018.

A tremenda crise hídrica e a prolongada estiagem que castigam parte do país não impediram que os jatos desta lavagem fossem fartos, fortes e penetrantes. O diabólico processo de desconstrução de candidatos e agentes políticos empreendido por estrategistas irresponsáveis durante a campanha eleitoral deverá prosseguir com redobrada fúria. Era esperado: só os ingênuos poderiam imaginar que um processo destrutivo e avassalador como aquele poderia ser rapidamente interrompido com um premir de botões ou manivelas.

No inesquecível Fantasia, de Walt Disney (1940), na fábula musicada por Paul Dukas, o aprendiz de feiticeiro incapaz de interromper o processo que deslanchou é protagonizado pelo ratinho Mickey. No bizantino Brasil Central, os trainees – estagiários – em matéria de desconstrução foram antas alopradas, incapazes de compreender que a violência é um processo dinâmico, incontrolável. Instalado, só cede depois de cumprir todas as etapas e ritos.

Não bastasse o extenso rol de implicações políticas, o petrolão poderá acelerar os mecanismos de convergência criminal. No dantesco cenário mexicano que se descortinou depois da chacina dos estudantes em Iguala, fica visível a atração das delinquências, o entrelaçamento do narcotráfico à corrupção política e à corrupção policial para atender a insaciável malha de interesses escusos que se articula nos desvãos do Estado.

Não chegamos lá, os tentáculos do crime organizado ainda não se entrelaçaram com os da corrupção política. Falta pouco: no Rio, em certas intersecções há uma natural aproximação da informalidade com a ilegalidade. A remessa dos fabulosos recursos obtidos através de comissões e propinas ilícitas fatalmente acaba por usar os canais e conexões que levam os ganhos do narcotráfico e da contravenção aos paraísos fiscais. O universo das malfeitorias se sustenta graças à sua incrível porosidade e capilaridade.

A coincidência do Juízo Final com a festa da República é uma dupla metáfora que não convém cultivar. Melhor fazer da República uma entidade sadia, sólida, para sempre distante de tribunais. E, quem sabe, parlamentarista?

Alberto Dines é jornalista.

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