Com grande ajuda do desempenho da economia mundial, a economia brasileira tem apresentado uma perceptível melhora nos seus principais indicadores econômicos. O bom desempenho do setor exportador teve impactos positivos nas contas externas, reduzindo a vulnerabilidade da economia em relação a choques externos.
Esse melhora nas contas externas aliada a uma elevada taxa de juros aumentam a oferta de dólares de forma a valorizar o câmbio, o que se traduz em uma redução do preço dos produtos importados. A valorização do câmbio contribui, desta forma, para o controle da inflação.
Com uma economia mais robusta em relação a choques externos e com a inflação controlada, os gestores do Banco Central do Brasil perceberam que era possível se iniciar um processo de redução da taxa de juros. Tal processo é essencial no estímulo ao crescimento considerando seus impactos positivos sobre o nível de investimentos e de consumo de bens duráveis. Mas a pergunta que fica é: até que ponto é possível reduzir a taxa de juros sem criar pressões inflacionárias?
A condição para o crescimento sem inflação é a existência de investimentos, em períodos anteriores, de forma a criar capacidade produtiva. No entanto, devido ao elevado nível dos juros no passado recente, a maior parte dos recursos foram aplicados no mercado financeiro sem causar, desse modo, impactos relevantes na capacidade produtiva da economia brasileira.
Mesmo que a redução dos juros estimule os investimentos, há um certo período de maturação destes até que se tornem, de fato, produtivos. Esse tempo pode ser maior ou menor dependendo do tipo e setor em que os investimentos são realizados. De uma forma geral, o que é preocupante, é que os investimentos em setores de infra-estrutura (transportes e energia, por exemplo) têm um prazo de maturação bastante elevado.
Em suma, o primeiro impacto da redução dos juros é sobre o aumento da demanda e, na medida em que a capacidade ociosa das empresas diminui, ocorre uma pressão para elevação dos preços dos bens e serviços.
Além dessa pressão inflacionária na economia brasileira causada pela queda da taxa de juros, o aumento da demanda externa e dos gastos do governo também estão pressionando os preços. Segundo dados do Boletim de Conjuntura do IPEA, a inflação acumulada dos alimentos, nos últimos 12 meses, foi de 9,3% e o gasto primário total do governo central se elevou em 9,4% nos primeiros sete meses de 2007 em relação ao mesmo período do ano anterior.
De fato, segundo dados do mesmo relatório, enquanto a inflação acumulada em 12 meses atingiu a marca de 3%, no final do primeiro trimestre de 2007, ela chegou a 4,2%, em agosto passado. Portanto, a economia brasileira encontra-se em uma armadilha na qual o processo de crescimento da demanda pode gerar elevações nos preços. Estamos pagando pelos baixos níveis de investimento produtivo dos últimos anos.
Como a taxa de juros é o principal instrumento de controle inflacionário, as autoridades monetárias logo encerrarão o seu processo de queda e, como essa taxa ainda se encontra em um patamar muito elevado, os estímulos ao crescimento não serão suficientes para que a economia brasileira mantenha razoáveis taxas de crescimento sem depender do bom desempenho da economia mundial.
O caminho a ser trilhado para que se mantenha o processo de redução da taxa de juros, com o conseqüente estímulo ao crescimento econômico, sem gerar pressões inflacionárias é o controle dos gastos do governo, pois, além de reduzir o nível de demanda da economia, reduz a necessidade de financiamento do setor público o que, por sua vez, facilita ainda mais o processo de redução da taxa de juros. É preciso também apreender que o processo de crescimento econômico sustentado e sem pressões inflacionários depende da manutenção de patamares elevados de investimento produtivo.
Luciano Nakabashi e Marcelo Luiz Curado são doutores em Economia e professores do Departamento de Economia da UFPR.
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