Há um paradoxo no governo da presidente Dilma Rousseff: confrontada com uma crise, ela improvisa uma solução sem ouvir quase ninguém e sem aprofundar o estudo das consequências possíveis e prováveis e, quando a solução se mostra impraticável o que tem acontecido com assustadora frequência e rapidez , ela a abandona para se abraçar a outra, igualmente improvisada, precedida de pouca reflexão e, como a primeira, fadada ao fracasso. Não é necessário lembrar os exemplos recentes para confirmar o que estou dizendo.
Mas onde está o paradoxo? Está no fato de que, tão expedita em alguns casos para indicar o que pretende fazer, a presidente é de uma morosidade exemplar na ação administrativa. Não é preciso ser nenhum gênio da economia e das finanças públicas para ver que as políticas do governo Dilma nessa área estão fazendo água há tempo. O ministro Guido Mantega perdeu totalmente credibilidade para fazer projeções e estimativas; as finanças públicas são maquiadas à custa de golpes de prestidigitação contábil, emprestando dinheiro às estatais para que estas paguem dividendos à União; a tal política dos "campeões nacionais", em que o governo federal se empenhou nos últimos anos para criar empresas brasileiras de porte mundial, nada mais é que um rótulo para emprestar dinheiro para alguns empresários comprarem seus concorrentes; depois de muitos anos, a balança comercial neste ano vai fechar com déficit e, somados os serviços e os pagamentos de juros e encargos, o país vai precisar de quase US$ 90 bilhões em 2013. Correção de rumos, nem pensar. Trocar as pessoas, menos ainda.
Daí vem o PAC, do qual a presidente é mãe, segundo o ex-presidente Lula. Trata-se de uma gestação longa, mais longa mesmo que a do elefante asiático e da salamandra alpina, animais que segundo o Google têm gestações de 22 meses a três anos. Recentes relatórios oficiais demonstram que, quase sem exceção, as obras de grande porte do governo federal estão atrasadas, algumas há mais de quatro anos; apenas 7% das obras de saneamento incluídas no PAC foram realmente realizadas e na área viária os atrasos são colossais. Já a transposição do Rio São Francisco virou motivo de chacota por parte dos cínicos e de preocupações por parte dos controladores das finanças públicas.
A culpa é do governo? Só em parte, pois no Brasil o termo "projeto" é aplicado com largueza e muitas vezes um simples risco em um mapa é apresentado como projeto de uma determinada obra. Estudos detalhados, sondagens etc. só virão depois, se é que virão. Além disso, a administração brasileira se transformou num enorme sorvedouro de tempo e de recursos: relatórios ambientais podem demorar anos, daí vêm os interesses das minorias, dos negros, pardos, índios, quilombolas; os Ministérios Públicos não fazem por menos e por qualquer dá cá aquela palha estão promovendo o embargo e a paralisação das obras; os Tribunais de Contas, ciosos de sua autoridade e poder, passaram a interferir em todos os estágios de um projeto, dos mais relevantes aos mais insignificantes. E toca paralisação de obra, medida cautelar, embargos, suspensões e tudo o mais.
Em português claro e repetindo o que já disse aqui mesmo há tempos, a administração brasileira se transformou num imenso Não-Fazímetro-Nada, aquela máquina mítica que gasta energia, produz barulho e calor, mas não gera produtos importantes. E aí, para compensar, submete a presidente ao vexame de ficar viajando país afora para entregar máquinas de terraplenagem e pás carregadoras para municípios, quando deveria estar entregando obras de porte à altura de nosso país e de suas deficiências.
Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.
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