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O Brasil vive um dilema para os próximos seis anos. Até 2030, conforme os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs), definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), uma das metas do país é atingir uma educação “inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”, conforme texto no site da instituição. Trata-se do ODS 4 que possui várias especificações, que falam, por exemplo, sobre investimentos desde a educação infantil até a formação técnica e profissional de jovens e adultos.
A criação dos ODSs data de setembro de 2015, quando foi realizada a Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. É fato que a cada ano todos os itens traçados na ocasião precisam ser reafirmados e revistos por todos os países-membros da ONU. Contudo, neste início de 2024, no que se refere à educação, precisamos apontar que os desafios que o Brasil vive não são poucos. Índices medidos interna e externamente nos mostram que temos um longo caminho a percorrer e que, se ações contundentes não forem tomadas, nossa educação tende a não apresentar melhorias significativas. Ainda assim, é perfeitamente possível atingir uma educação plena e de qualidade.
Em novembro de 2023, por exemplo, foram divulgados os índices do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que avalia alunos de 81 países no mundo. Apesar de melhorar suas colocações e notas em relação ao levantamento anterior (do ano de 2018), o Brasil permanece nas últimas colocações, com índices abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No Pisa, os estudantes são avaliados em três quesitos: em matemática, o país ficou na 65ª colocação; em ciências na 62ª; e em leitura na 52ª.
Quando olhamos para os indicadores caseiros, a situação não é menos preocupante. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2021 (o mais recente divulgado) mostra queda no rendimento dos alunos a cada etapa da vida escolar. Os estudantes do país caíram de 5,8 pontos no Ensino Fundamental 1 (Anos Iniciais), para 5,1 no Ensino Fundamental 2 (Anos Finais) e para 4,2 no Ensino Médio. Dentro destes índices, existem ainda discrepâncias quando analisamos o ensino público e privado, e suas diferenças regionais do país. E é neste ponto que podem estar os primeiros passos para atingir uma educação mais igualitária e de qualidade no país.
Em média, conforme o Ideb, as escolas privadas possuem índices 22,5% acima das públicas no Ensino Fundamental 1; 22,2% a mais no Ensino Fundamental 2; e 30,3% superior no Ensino Médio. São números que comprovam o que o senso comum já entendeu sobre a diferença de qualidade no ensino público e privado, o que mostra a necessidade de todas as esferas governamentais (nos municípios, estados e no país) de mais investimentos nas escolas. Os índices podem ainda revelar diferenças regionais: enquanto o Norte (5,0) e Nordeste (5,3) possuem as piores avaliações, o Sul (6,2) e Sudeste (6,1) aparecem na primeira colocação (além do Centro-Oeste com 5,8). Diferença que, é necessário pontuar, é histórica quando falamos de educação no Brasil.
Os números do Ideb e do Pisa só poderão melhorar se os estudantes, em especial os da escola pública (que mais carece de recursos), tiverem acesso a uma lista extensa, que começa no conteúdo de qualidade; materiais didáticos sempre atualizados e em quantidade suficiente para cada aluno; tecnologia em sala de aula também suficiente para cada estudante e para os professores de todos os componentes curriculares exercerem seus projetos; recursos para salas de atendimento especializado, que considerem as múltiplas especificidades a serem atendidas; profissionais de apoio para educação especializada; e atividades extracurriculares que complementem o ensino.
Para além dos componentes curriculares e projetos que os enriqueçam, é necessário também um olhar cuidadoso para outras áreas que a educação necessita. Por isso, as escolas precisam de profissionais qualificados como assistentes sociais e psicólogos. Afinal, a formação de um cidadão não está apenas relacionada ao conteúdo que professores compartilham, mas ao suporte emocional e social que os estudantes precisam receber, ainda mais em um país com tantas famílias em situação de vulnerabilidade. Questões tão latentes da sociedade não podem ser responsabilidade exclusiva de docentes e pedagogos.
E não podemos esquecer da valorização dos profissionais da educação, desde os funcionários da portaria, secretarias, limpeza, merenda, até os professores, pedagogos, diretores, psicólogos e assistentes sociais. Todos esses contribuem de alguma forma com o ensino de crianças e adolescentes. Essa valorização passa pelo respeito ao trabalho por toda a sociedade, as famílias e as instâncias governamentais. Desmerecer a educação e seus profissionais contribui para a destruição de um projeto de país mais inclusivo e igualitário.
Podemos ver que não se trata de um caminho rápido a ser percorrido. A evolução vai acontecer aos poucos, em um país tão grande e diverso. Mas o esforço de toda a sociedade poderá ser compensador, seja daqui seis anos ou mais, conforme forem identificadas as melhorias na educação.
Carolina Paschoal, diretora e pedagoga da Escola Pedro Apóstolo.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos