A infraestrutura é outro gargalo relevante que poderá não somente limitar nosso crescimento, como já o tem feito. Nesse ponto, o governo precisa reduzir o crescimento dos gastos em custeio e pessoal para aumentar o investimento público
Nesses oito anos de governo Lula, o país apresentou várias mudanças, sendo que a mais importante delas é que o país voltou a crescer. O brasileiro estava com uma baixa autoestima após duas décadas de crises e baixo crescimento. Não acreditava mais que o país poderia apresentar altas taxas de crescimento e chegar ao tão sonhado grupo de países desenvolvidos.
O cenário mudou, o país vem crescendo a taxas mais elevadas e existe uma expectativa positiva em relação ao futuro da economia brasileira. Enquanto o PIB brasileiro cresceu a uma média anual real de 1,67%, entre 1981 e 1990, e 2,51%, entre 1991 e 2000, essa taxa atingiu uma média de 3,56% entre 2001 e 2010, de acordo com os dados do IPEA. Considerando que a taxa de natalidade vem caindo, o efeito sobre o PIB per capita foi ainda maior. No governo Lula, mesmo com um crescimento negativo, em 2009, devido à crise financeira internacional, a média foi de 4%.
Essa elevação da taxa média de crescimento tem efeitos significativos sobre o nível do produto da economia, no longo prazo. Por exemplo, se a economia mantivesse essa média de crescimento real anual, chegaríamos ao nível atual de renda per capita dos Estados Unidos em 50 anos, ou seja, em pouco mais do que duas gerações. Os netos da geração atual ganhariam e consumiriam cerca de 4,5 vezes mais do que seus avós.
Mas, para verificar a possibilidade de manter a taxa de crescimento da era Lula, precisamos analisar suas causas. O governo Lula encontrou um cenário internacional favorável, com forte crescimento da demanda externa pelos produtos brasileiros, aquecendo a demanda interna e estimulando a produção. Outras variáveis importantes foram o aumento do crédito, o estimulo governamental a alguns setores, como o imobiliário, além do próprio processo de crescimento da renda dos trabalhadores, que aqueceram a demanda interna. A ampliação da demanda criou oportunidades para os empresários que responderam via elevação dos investimentos, gerando um círculo virtuoso de crescimento.
Com o expressivo desempenho das economias em desenvolvimento, sobretudo China e Índia, o país conseguiu acelerar sua taxa de crescimento com superávits na conta corrente entre 2003 e 2007, o que foi fundamental para reverter a fragilidade externa da economia brasileira e crescer de uma maneira sólida.
No atual momento, o novo governo precisa focar na volta dos déficits externos para que eles não gerem uma fragilidade externa. A expectativa é que os países emergentes continuem a apresentar elevado crescimento e que os desenvolvidos comecem a se recuperar. Mas esse cenário externo não adiantará com uma taxa de câmbio apreciada como a atual. Outros dois pontos relevantes que o governo Lula atacou de maneira muito tímida são: a formação de quadro de profissionais para atender à demanda das empresas e a infraestrutura de transportes.
Na formação de profissionais, é preciso focar na qualidade dos níveis de ensino fundamental e médio e na quantidade de trabalhadores com ensino superior, sobretudo de engenheiros. Melhorar a qualidade dos dois primeiros níveis de ensino significa dar maior oportunidade às pessoas de classes sociais mais baixas, facilitando a ascensão social, além de aumentar a produtividade dos mesmos e a quantidade de pessoas preparadas para entrar no ensino superior. Elevar a quantidade de alunos no ensino superior, principalmente nas engenharias, evita um gargalo que surge em economias que apresentam crescimento razoável com reduzida capacitação de seus trabalhadores.
A infraestrutura é outro gargalo relevante que poderá não somente limitar nosso crescimento, como já o tem feito. Nesse ponto, o governo precisa reduzir o crescimento dos gastos em custeio e pessoal para aumentar o investimento público. Adicionalmente, precisa dar maior autonomia e força às agências reguladoras para incentivar o investimento privado.
Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor do Departamento de Economia da UFPR e pesquisador do CNPQ. E-mail: luciano.nakabashi@gmail.com
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