A obra do economista Miguel Salomão constitui legado que precisa ser revelado em toda a sua dimensão. O homem sereno e sempre discreto que acaba de nos deixar era a expressão da integridade e da disposição em servir. Alma gentil, conciliava o extremo rigor técnico com a ponderação – tão própria do seu temperamento, mas também fruto do vasto conhecimento sociológico que alimentava o economista e, sobretudo, o professor que nunca deixou de ser.
Salomão, que iniciou no jornalismo, mas logo enveredou pela economia, fazendo carreira no Banco do Brasil e depois no Banco Central, já era um consultor internacional reconhecido quando o convidei para o governo, em 1995. Indicado pelo FMI, tinha sido um dos que reorganizaram a economia de Angola, destroçada por 30 anos de guerra civil. Como tal, foi um dos criadores do Banco Central de lá. Como se vê, tinha porte de ministro, mas aceitou com entusiasmo a Secretaria da Fazenda e, depois, a pasta do Planejamento. Por último, presidiu a Paranaprevidência, que ajudou a criar e que se revelaria a grande solução contra a insolvência que se projetava no estado, dado o crescimento exponencial da folha de aposentados. Solução referencial que até hoje inspira outros estados.
Ele tinha porte de ministro, mas aceitou com entusiasmo a Secretaria da Fazenda e, depois, a do Planejamento
Em todas as funções, foi ator central dos êxitos daquele governo, aportando ponderações e expertise determinantes em momentos cruciais. Atuou intensamente na atração das montadoras e dos grandes investimentos que, naquela segunda metade dos anos 90, mudaram radicalmente o perfil econômico do nosso estado. Não apenas equacionando com rapidez as contrapartidas que competiam ao estado, mas participando ativamente na linha de frente do esforço de convencimento dos investidores, no que era muito ajudado pela didática do professor paciente e pela experiência acumulada em mesas de negociações internacionais.
No cotidiano do governo, Salomão era para a equipe toda um consultor paciente e sempre disponível. A ele podíamos recorrer sem qualquer constrangimento, com a certeza de obter os melhores conselhos. E essa é outra dimensão admirável de Miguel Salomão como homem público: a visão que não perde o todo, a atuação que se volta para a floresta, não se restringe às árvores sob seu cuidado. Tal dimensão, creio, pode explicar o reconhecimento das centenas, talvez milhares, de alunos a quem se dedicou por mais de 30 anos.
Esse era o sábio e sereno Miguel Salomão que perdemos em março. Antes, no início dos anos 2000, o Brasil já o havia perdido para Angola, que, pelo êxito da missão antes ali realizada, veio buscá-lo novamente.
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