Causou repercussão mundial a declaração do papa Francisco de que o massacre cometido há 100 anos por forças do Império Otomano contra a população armênia foi “o primeiro genocídio do século 20”. As palavras do papa Francisco trouxeram à luz a necessidade do reconhecimento de 1,5 milhão de mortes de armênios como um genocídio, necessidade reafirmada nesta semana pelo Parlamento Europeu.
O sentido dessa mobilização mundial da comunidade armênia está expresso em uma frase simples, que alcança o centro da questão: “Lembro e reivindico”. Nós, armênios, lembramos aqueles eventos e reivindicamos que as nações do mundo os reconheçam pelo que de fato eles representam.
O massacre cometido pelas forças do Império Otomano contra os armênios a partir de 1915, quando lideranças políticas foram presas e assassinadas em 24 de abril – data em que prestamos nossas homenagens aos mortos – é um fato histórico que não pode ser apagado da memória da humanidade e muito menos alterado, distorcido ou disfarçado.
As lembranças que nossos pais e avós têm daqueles tempos são cruéis. Pessoas foram expulsas de suas casas; mulheres, crianças e idosos, forçados a atravessar o deserto sem água, sem comida, sem agasalhos, sem destino. Soldados armênios foram obrigados a depor suas armas, e mortos em seguida. Igrejas foram queimadas. Homens foram sumariamente executados. Os que sobreviveram à fuga pelo deserto foram acolhidos por várias nações, entre elas o Brasil.
As lembranças que nossos pais e avós têm daqueles tempos são cruéis
O horror dessas lembranças ainda está vivo na memória de muitos armênios que as ouviram de seus pais e dos avós. Mas também está acessível a uma busca na internet.
Se nossas memórias não fossem duras o bastante, e se as imagens hoje expostas ao mundo também não o fossem, consultas aos documentos e aos jornais da época seriam suficientes para sustentar nossa reivindicação. No dia 25 de abril de 1915, agências de notícias de Londres afirmaram: “A polícia turca, cumprindo ordens das autoridades, disparou contra armênios, fazendo uma verdadeira matança entre eles”. Em 27 de abril, o jornal argentino La Prensa anotava: “Um telegrama de Dilman, Pérsia, confirma o êxodo de 30 mil armênios e a matança de milhares por turcos”.
Em maio de 1915, governos da França, Grã-Bretanha e Rússia condenaram os massacres “verificados em abril (...) em toda a Armênia” e consideraram “responsáveis pelos ditos crimes todos os membros do governo otomano”.
Um decreto de maio de 1915 determinou que turcos assumissem as propriedades de armênios deportados. Àqueles que resistiam, o castigo era cruel, como registrou o jornal The New York Times: “Detalhes quase inacreditáveis de massacres de armênios cometidos pelos turcos (...). Em uma vila, mil homens, mulheres e crianças foram trancados em uma construção de madeira e atearam fogo, todos morreram queimados”.
Esse horror foi organizado, institucional, cometido pelo governo que comandava o Império Otomano e dirigido especificamente contra o povo armênio com o objetivo de o dizimar. Não há sofismas ou eufemismos que sejam capazes de minimizar essa mancha na história.
Esses fatos embasaram a recente declaração do papa Francisco. É inegável a sabedoria contida na mensagem do Sumo Pontífice: “Ocultar ou negar o mal é como permitir que uma ferida siga sangrando sem enfaixá-la”.
Como afirmou o presidente da Armênia, Serzh Sargsyan, em carta dirigida ao presidente da Turquia, “o dever de cada um de nós é passar para as futuras gerações a história real, sem distorções, evitando, assim, a repetição dos crimes e abrindo o caminho para uma maior aproximação e cooperação entre as nações, em especial nações vizinhas”.
O reconhecimento do genocídio é o passo crucial para que possamos curar essa ferida e seguir em frente.
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