Bolsonaro chegou ao poder cercado de expectativa, planos e promessas de liberdade na economia. Trazia um ativo importante em sua equipe, Paulo Guedes, que prometia um choque de economia de mercado que sacudiria os alicerces de um Estado paquidérmico que havia deixado a população refém dos burocratas. Mais Brasil e menos Brasília era seu lema. Nosso país, sequestrado pela burocracia, deveria ser recuperado para os brasileiros.
Em entrevistas, dizia que, se dependesse dele, venderia todas as estatais. Os liberais somaram-se ao governo Bolsonaro engrossando seus quadros, inclusive este articulista, que assumiu a direção da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex-Brasil). Para a Secretaria de Privatizações, escolheu-se mais um liberal, Salim Mattar. O time chegou esperançoso, com ganas de mudar o Brasil.
Os problemas não foram poucos. A resistência da burocracia e as tramas internas do governo começaram a minar nossas ações. Na Apex, em pouco tempo desembarcaram oficiais da Marinha, enquanto no Congresso Nacional faltava apoio para a agenda liberalizante de Guedes. A proposta liberal, que reduz o poder do establishment, foi combatida de forma intensa pela burocracia, com receio de que desmontássemos os instrumentos de benesses governamentais de suas corporações civis e militares.
Hoje, desembarcados do governo, Paulo Uebel, Salim Mattar e este que vos escreve, entre tantos outros, seguimos firmes e confiantes de que a agenda liberalizante é o melhor caminho para o desenvolvimento do Brasil. Infelizmente, os desafios foram imensos e fomos vencidos pelos jogos de poder, burocracia militante, militares patrimonialistas e pela mudança de perfil presidencial durante o mandato.
Roberto Campos disse certa vez, referindo-se ao governo Collor: “É lamentável. É um desperdício profundamente lamentável. É mais uma oportunidade que o país perde. Para mim é mais uma esperança que se frustra. Nunca o liberalismo, que é a minha razão política, esteve tão perto de acontecer neste país, e nunca foi tão irresponsavelmente escorraçado”. Faço minhas as palavras do embaixador Roberto Campos mais de três décadas depois.
O governo Bolsonaro traiu o credo liberal e também a agenda fundamental de todos aqueles que acreditam nos instrumentos da liberdade de mercado como pilar fundamental do desenvolvimento. Até o momento, o Planalto transitou em sentido oposto, fortalecendo o patrimonialismo, clientelismo e paternalismo, instrumentos contrários aos valores liberais, uma equação que resulta em populismo, aumento de gastos e irresponsabilidade fiscal. Para resumir em uma palavra: desilusão.
O poder transforma, mas, no caso de Bolsonaro, a equação tem sentido inverso. No poder, o presidente retornou ao seu estado natural, um deputado do Centrão nacional-desenvolvimentista e corporativista, que votou contra reformas liberalizantes propostas em governos anteriores.
Bolsonaro chegará ao fim do mandato sem realizar qualquer reforma profunda nas estruturas de nosso arcaico modelo de desenvolvimento. Como dizia Roberto Campos, “o Brasil não perde a oportunidade de perder oportunidades”.
Márcio Coimbra, cientista político e mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos, é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, diretor-executivo do Interlegis no Senado Federal e ex-diretor da Apex-Brasil.
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