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Liderança feminina é marcante no terceiro setor

 | Carl Dwyer/Free Images
(Foto: Carl Dwyer/Free Images)

Das várias organizações associadas ao grupo de institutos, fundações e empresas, 51% contam com mulheres em posições de liderança. É o que indica pesquisa realizada pelo Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife). Apesar desse índice, acredito que as mulheres precisam divulgar mais o seu trabalho e ter mais consciência de seu potencial.

Na minha experiência de líder e empresária, envolvida com o terceiro setor há seis anos no Brasil, sei que, entre as exigências para uma excelente gestão de ONGs, fundações e movimentos sociais, além da excelente qualificação técnica, está o famoso QE, sigla que identifica o “quociente emocional”. Boa formação profissional e intelectual, visão, ética e proatividade são características fundamentais para ser um bom líder. Para liderar no terceiro setor, no entanto, é fundamental ter também um conjunto de habilidades emocionais, como autocontrole, empatia, autoestima, autoconfiança, afabilidade, automotivação e resiliência. Esses traços pessoais ajudam no desempenho individual e facilitam os relacionamentos interpessoais.

Em outras palavras, o QE se refere à capacidade de perceber, controlar, avaliar e expressar emoções. O terceiro setor demanda profissionais sensíveis, que, em muitos casos, são mulheres que escutam e entendem o receptor. E que conseguem mesclar as demandas internas com as diretrizes do conselho (grupo de dirigentes).

Não se deve copiar o modelo masculinizante de poder, que é mais vertical

O terceiro setor é um business e, como todos os outros, tem objetivos, preocupação com indicadores e orçamentos, busca por boa performance e resultados. Nele também deve haver orientação estratégica, visão de futuro a ser conquistada de forma consistente e responsabilidade pelos resultados, sempre com transparência e ética. Em suma, o CEO de uma ONG deve combinar a habilidade necessária aos negócios, a capacidade de gerenciar e empreender com algo que faça uma diferença social maior. E é essa vontade de mudança que vem atraindo mulheres para o terceiro setor.

A adaptação a este mercado é rápida, pois é ele imensamente gratificante. Difícil é o salário baixo. Fácil é realmente colocar nossas habilidades em prática e elas são incrivelmente úteis. Difícil é ter de aprender as dinâmicas do setor e lidar com o constante malabarismo de fazer “mais com menos”, pois recursos são sempre escassos.

A mulher terá cada vez mais um papel fundamental nas práticas do terceiro setor. Além de se preocupar em “cuidar das pessoas”, muitas mulheres têm sensibilidade, poder de articulação e capacidade técnica, administrativa e financeira. As lideranças femininas devem também exercitar cada vez mais seu poder de diálogo, praticar o trabalho em equipe e utilizar sua sensibilidade; não se deve copiar o modelo masculinizante de poder, que é mais vertical.

Seguindo essa linha, o primeiro papel das organizações não governamentais é, portanto, se tornarem centros de inovação e criatividade, reunindo sugestões para solucionar problemas complexos. Ao contrário dos governos, as ONGs são menos burocráticas e mais flexíveis. Diferentemente das empresas privadas, têm menos medo dos riscos financeiros e são mais propensas a experimentar. Soma-se a isso o fato de terem mais jovens nas suas equipes, o que permite um diálogo mais fácil com a inovação e o espírito de mudança.

Um outro papel fundamental é o de aproximar as instituições de ensino, pesquisa e inovação tecnológica do mundo real. Elas tendem a se distanciar da realidade e se isolar de forma autocentrada, contribuindo, assim, menos do que poderiam, dado o seu elevado nível de qualificação acadêmica e técnica.

ONGs têm mais facilidade de denunciar os problemas e incomodar os tomadores de decisão, tanto nos governos quanto nas empresas. A maior liberdade, jovialidade e inquietude das ONGs torna-as o ambiente rico para lideranças femininas.

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