Entre lockdown, quarentena e isolamento social, faz mais de um ano que a pandemia mudou a vida de todos e, também, das crianças. Pedagoga há mais de 20 anos, entendo a infância como um tempo de brincar, sorrir, fantasiar, comer bolo, cair, ser amparada, acolhida, amada... A criança – até mais ou menos 5 ou 6 anos – é pura emoção; não tem ainda os filtros mentais da cognição. Como se comportar diante de tudo isso?
Atendi uma família que me relatou preocupação com o filho de 5 anos que estava muito agressivo. Os comportamentos disfuncionais dos pequenos são como um sinal de alerta! Neste caso, sem conseguir ainda expressar os incômodos de uma forma de viver, a agressividade é só um sintoma que precisa ser entendido para encontrar alternativas e minimizar os danos da pandemia.
Crianças sem outras crianças, brincadeiras apenas dentro de casa, homeschooling, distância dos avós, parentes e amigos. Essa é a realidade da “Geração C”, um grupo composto por crianças que foram drasticamente afetadas pela pandemia.
Segundo pesquisa divulgada pelo Grupo de Pesquisa Primeira Infância Plena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o aumento das condições crônicas da infância, relacionado aos avanços científicos e tecnológicos, configura-se como uma tendência epidemiológica. A pesquisa aponta a necessidade de reorganização do modo de atender às demandas dessas crianças e adolescentes em condições crônicas, como o momento da pandemia da Covid-19.
De acordo com a análise, “a intervenção em tempo oportuno é essencial para propiciar saúde, autonomia e qualidade de vida a nossas crianças e suas famílias”. A pesquisa traz à tona que hoje, mais do que nunca, precisamos ser presentes no dia a dia dos filhos e agir de forma intencional para fortalecer vínculos afetivos.
Um caminho salutar é oferecer à criança experiências positivas que geram memórias fortalecedoras. As memórias registradas pelo cérebro são sensoriais. Cada uma delas é envolta de sentimentos diversos e de significados, de acordo com o que vemos, ouvimos, pensamos e sentimos. Desde a infância, é fundamental que todos nós vivenciemos experiências positivas de pertencimento, importância, conexão e limites para formação de convicções que fortalecem nossa identidade (quem sou) e capacidade (o que sou capaz de fazer).
Para quem passa, neste momento, pela responsabilidade de educar uma criança em meio a tantos desafios – ainda maiores que os que já existiam no mundo normal –, reforço que família é lugar de boas memórias. Independentemente de poder ou não sair de casa, de ver ou brincar com outras pessoas, ofereça o antídoto para amenizar os impactos: vivências de experiências positivas para as crianças de hoje.
Sara Braga é pesquisadora de neuroeducação, pedagoga e coautora, com Paulo Vieira, de “Educar, amar e dar limites”.
Deixe sua opinião