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Artigo

Loucos de dar nó

O presidente Jair Bolsonaro recebe os presidentes do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre e ministros, no Palácio da Alvorada. (Foto: Marcos Corrêa/PR)

Em outubro do ano passado, tive a oportunidade de escrever na Gazeta do Povo sobre o que chamei de “Teratogênese da Politicagem”, comentando o sombrio horizonte que se apresentava para qualquer dos candidatos que viesse a ser eleito o novo presidente. Não vai aqui qualquer satisfação egoica em ter preconizado a frustração que se aproximava, mas sim uma espécie de revolta pelo óbvio que postulava aquela crônica: "tratar-se-á, seja qual for a escolha, de mais um manifestamente 'bem-intencionado', amarrado pelo Congresso e amedrontado pelo MP e Judiciário, com pouquíssimo espaço para as manobras radicais propostas em campanha".

Com relação ao Congresso, lá comentamos resumidamente sobre: "um grupo hegemônico de velhos políticos pronto para acasalar com a nova onda de representantes. Surgindo, então, a amálgama de partidos que se sucederam no Poder Executivo e dominaram o Legislativo". Incrível, mas na época ainda não atinava sobre a denominação, hoje popularizada, daquilo que agora é um palavrão de domínio e uso público: o Centrão.

Ficou fácil socializar opiniões malucas no ambiente da internet

Mas soaria lugar comum centrar fogo e criticar essa turba de cidadãos brasileiros clientelistas legitimados pelo voto, e que sempre aí estiveram. O importante talvez seja perceber a inépcia e o despreparo da criatura teratogênica que emergiu naquela eleição, demonstrados em todas as frentes, incluindo o enfrentamento – ou seria adestramento? – do tal Centrão.

Mais que a pretensa ingenuidade do ungido presidente e daqueles que acreditaram, e continuam crendo, em uma figura de poderes imperiais alheia às demais instituições, assustam suas polêmicas e constrangedoras declarações. Declarações que trombam a toda hora com preceitos basilares da Constituição brasileira forjada para a formação de um Estado laico, livre de preconceitos e que deve promover a paz e o meio ambiente equilibrado para seus cidadãos. Tudo isso enquanto bate palmas para alguns loucos dançarem dentro de gabinetes ministeriais povoados por figuras que socializam imagens em festejos que em muito lembram cenas do clássico Loucos de dar nó. Ou seria A gaiola das loucas?

Diga-me com quem andas e te direi quem és, certo? Essa frase, mesmo batida, soa extremamente verdadeira para o momento. Principalmente para aqueles que não se comportam como torcedores de um time de futebol, mas sim como frios avaliadores de nossos sucessivos governos.

Ao que tudo indica, teremos de sobreviver, como brasileiros, humilhados e expostos ao ridículo por ministros de Estado que tartamudeiam palavras desconexas, afrontam leis e visões divergentes das suas próprias, “zapeando”, fazendo tagarelices e postando em mídias sociais como adolescentes tolos. Seria demais sugerir que tais ministros estudassem os relatórios técnicos e os documentos estratégicos, ou consultassem profissionais capazes (que certamente existem em seus ministérios) antes de emitir seus “palpites”? Parece que sim! Ficou fácil socializar opiniões malucas no ambiente da internet e, mesmo assim, contar com claque de brasileiros indignados e igualmente arredios a fontes de informação fidedignas.

De fato, como muitas teratogêneses, por vezes mesmo aquilo que é malformado tende a subsistir, tomando boa parte do corpo do alto escalão da nossa agonizante administração pública. Talvez seja o caso de chamar médicos, de qualquer nacionalidade, que possam dar diagnóstico e tratamento para essas novas anomalias. Sozinhos estamos indo muito mal.

Tom Grando, biólogo, é especialista em Políticas Públicas pela Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).

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